sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Quando eu morrer

Quando eu morrer
não quero pastor nem padre rezando...
Chamem os curimbeiros, os ogãs e aquelas mulheres lindas e negras,
que cantam como os deuses.
- Detesto hipocrisia e preciso exaltar minhas origens.

Quando eu morrer
não quero bandeira do Brasil nem do Rio de Janeiro...
Repousem sobre meu caixão apenas duas bandeiras:
a do Colégio Pedro II e uma outra com uma foice e um martelo.
- Detesto hipocrisia e preciso exaltar o que me tornou eu mesmo.

Quando eu morrer
quero choro e velas...
Às vezes o choro é também de alegria
e é necessário um bocado de luz.
- Detesto a frieza dos homens e preciso ajudá-los com isto.

Quando eu morrer
quero, depois do sepultamento, uma festa onde eu morava.
Toquem Chico, Bethânia, Sosa, Buika, Nina e Raul.
Quanto aos sambas, toquem todos, mas só dos que prestam...
 - Detesto esse ruído do século 21 e preciso ouvir esses seres mais uma vez.

Quando eu morrer
estarei morto, certamente.
E muito me preocupa se morrerei Ser ou indigente...
Não fazer parte da História me é de muita precariedade.
- Detesto representações e preciso expor minha individualidade.

4 comentários:

  1. Lembrei disto:

    http://www.youtube.com/watch?v=utUzUVEs90s

    À propósito, belo poema.

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  2. Muito bom, amigo!
    Posso não conseguir muitas coisas para você, mas músicas de Chico, Bethânia, algumas da Umbanda, pode apostar que eu coloco pra tocar!

    Sério, gostei muito do poema. Faz a gente refletir, sabia? Fiquei pensando na minha vez. E só pra constar, por favor, na minha hora de ida, leia Augusto dos Anjos... algo bem deprimente... porque acho que apesar dos meus sorrisos constantes, o coração nem sempre estava sorrindo e foi Augusto dos Anjos que soube traduzir bem o que eu sentia.

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    1. Obrigado, meu amor!! Fico feliz por ter alguém que encare estas minhas preferências não como absurdas e incoerentes, mas como vontades que necessitam ser realizadas...
      E pode deixar, lerei com todo o orgulho do mundo o mestre Augusto. É curioso como nosso sorriso camufla a nossa íris negra! Mas creio que talvez seja vital sorrir, ao menos se desejamos um pouco de ilusão...

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