segunda-feira, 30 de julho de 2012

À morena do Jongo



O girado de tua saia
Arrepia-me a pele.

O bailado de tuas pernas
Arrepia-me a pele.

O gingado de seus quadris
Arrepia-me a pele.

O teu cabelo negro
Arrepia-me a pele.

O teu suor quente
Arrepia-me a pele.

Tua gíria malandra
Arrepia-me a pele.

Tua onda de erva
Arrepia-me a pele.

Teu olho mareado
Arrepia-me a pele.

Tua ressaca de palavrões e ternuras
Arrepia-me a pele.

Tudo teu
Arrepia-me a pele.

Tudo. Absolutamente.



Para a Morena do Jongo

domingo, 29 de julho de 2012

Também posso dizer das flores

Querem me dizer das flores
como se borboletas não houvesse em meu quintal.
Querem me falar das chuvas e trovões
como se filho de Yansã eu não fosse.

Querem me dizer quem trouxe
o cheiro de alecrim da mata
como se eu não fosse o próprio deus,
o próprio Homem-Oxóssi...

Mas que insanos são os seres
que querem sempre algo me dizer,
que querem tapar o Sol co'a peneira,
que querem me calar com suas verdades...

São ratos mal pagos,
porcos felizes da lama,
traidores da mesma cama,
impostores do mal-comum...

Ahhhhhhhh, eu devo ser poeta!
ou um filósofo qualquer!
- Os homens de hoje em dia não rabiscam mais em cores.

Sim! devo ser poeta, filósofo errante.
Pois falo dos grandes pensantes
às miudezas das flores!

Oito versos

Flores, chuvas e trovões
fazem lindo alvoroço,
enfeitam o amor nos campos,
odorizam o suor do esforço;

Alcançam a métrica dos deuses,
fazem no poeta a mais bela poesia.
Confeitam de cores e sons
as nuvens cinzas de todo dia.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Revolta

Há em minh'alma algo que não sou eu.
Um oco, um vazio, um não-ser nem não-ser...
Eu não sei como lidar com isso. Nem sei se quero.
O que importa é que é exatamente este indizível que me faz dizer.
Que me faz buscar a dor como remédio para o banal.

Bom, mas talvez isso seja eu também. Eu também, não sei.
Há em minha alma algo que sou eu mas que eu não sei que sou eu.
É, está mais claro agora. Ou não.

E seja lá qual for sua opinião sobre isso.
Não me importa.
Nada me importa hoje.
Deveria importar? Por qual motivo?
Não me importo.


Estou decidido a dar um rumo à minha vida.
E talvez este rumo seja não dar um rumo à minha vida.

Não está entendendo, não é?
Suspeitei.
Medíocre. Superficial. Banal. Burro.

Mas relaxe.
Acho que nem eu me entendo às vezes.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mentiras

Pessoa de verdade,
de verdade,
verdade? Existe não.

Essa coisa de verdade, meu filho, é tudo invenção.

O Homem é fruto de algo inventado.
O indivíduo não passa de vil construção.

Essa coisa de ser enveredado
numa verdade, meu filho, não passa de conto!
Essa coisa de que toda linha é sequência de ponto também, tudo ilusão!

Essa coisa de verdade, meu filho, é tudo invenção.
Tudo invenção.
Tudo.
Invenção.

sábado, 21 de julho de 2012

Para os fazedores de estragos




É a Tristeza mãe da Poesia.
O poeta é somente barriga-de-aluguel;
parteiro, premiado co'a dor de parto;
puta, meretriz; gente da vida.

Não me diga que há aqueles que escrevem sem dor.
Não creio. Não creio. Não há motivo para crer.
O poeta come e bebe daquilo que mata;
daquilo que transgride, que liberta e o faz fenecer.

A Poesia é filha da Dor, filha da Tristeza.
É feto abortado sem o mínimo amor.
É criança que cresce sem nunca ver a Beleza.
É a hipocrisia revelada pela farsa do ator.

E por isso sou poeta,
e por isso canto alto as baixezas de minha vida:
ao contrário do raso lago que são as almas,
das alegrias vindas de palmas,
cavo profundo minha própria ferida.



Para meu grande amigo e mestre Helber Gonçalves.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aurora


Aurora,
vestígios de uma noite aleatória,
retrato-falado da degradação do homem,
parte mínima e a priori da escória...

Aurora,
gosto quente e cortante e ao mesmo tempo doce,
cor do sangue quando muito coagula,
embebedas o homem com líquida textura
e o faz pensar que não era o o homem que já quis que fosse.

Aurora,
misturei-te co'a cevada bem gelada
e espumaste em minha boca já tão fria
o gosto ocre da encorpada alegria
saltitante de minha língua estalada!

Aurora,
não pensei que fosse chegada a hora
de ver tua bela garrafa vazia...
Mas é tempo do insano ir embora,
levar suas malas tristes para fora,
e dar adeus aos encantos da boemia.

Para Vitor e Ana.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cheia de Graça


Bela flor da noite
és tu, Ana formosa,
que brilha qual negra rosa
a pulsar como estrela cintilante...

Tu és branca mulata
que alegra a vida do poeta.
Tu és a serenata que encanta a vida menos reta!

Quantos louvores canto a ti e não sabes!
Nem mesmo eu sei dos pesares
que tu me fomentas na alma!

Ana beata, santa, impura, funesta...
Me lembras a besta vestida por um corpo santo!
E aqui lhe visto o manto glorioso
do poema que lhe jurei.

E embora não seja teu rei,
bem o sei que lhe sou grande amigo;
que nas terras que tu andas
sou o conforto pelo qual caminhas sem ter Lei.

Estou contigo, Ana querida, e de ti eu não largo.
Pois embora comprido seja meu passo,
contigo tenho segurança,
contigo eu tenho fé.
E mesmo embora tu sejas bem menina,
inocente, pequena, luz santa vespertina,
és fogo pulsante,
bebida inebriante em tons de mulher...


Para Ana Carolina

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Café antes de dormir


Um gole.
Mais
um gole.
Mais
um gole.
Mais
um gole.

Um gole a mais...

Caneca vazia - eu bebo rápido demais.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cordel de amigo




Não sei se gosta de poemas,
nem se um dos meus você já leu...
Mas este eu fiz para você, loirinha.
Este poema aqui é seu.

De toda dor que há no mundo,
a do coração é a pior.
Mas ter firmeza é preciso
- As coisas assim se dão melhor...

Sei que teu peito agora chora
e lágrimas de medo caem sem parar.
Mas respira fundo, pára e olha,
teu amigo aqui vai te ajudar...

O coração do Homem muda,
como mudam as nuvens a todo o momento.
E como mudam as águas que correm nos rios,
também mudam os nossos sentimentos.

Aceitar as mudanças não é fácil,
até hoje as minhas me deixam perdido.
E quando se é com um amor querido,
a coisa fica muito menos táctil.

Relaxa, mantenha a fé, que, infeliz ou felizmente
tudo, tudo passa.
A vida é bonita, é eterna,
não é só feita de desgraças....

Tudo dará certo. Seja lá
o que o certo for.
Pra todo amor que cessa ou nasce,
brota ou morre uma flor.

São os disparates da vida,
é o embaraço por Eros pregado...
Anima, sê forte e gentil.
- O futuro é feito de passados.


Para Z.S.