quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ofertório



Tudo que escrevi é teu...
Todos os hinos, todos os cânticos.
Todos os louvores aos homens, a Deus.
É tudo teu, é tudo teu...

Fiz letras com teu rosto.
Fiz poemas com nosso suor.
Revoluções eu armei pensando somente no teu sorriso...
E você, que desperta em nosso ninho,
que se enrola em meus braços feito passarinho
sem cobertas, cantando nossa música de amor
sem vergonha, sem malícia,
diz com teu corpo ao meu ouvido: te amo.

E embora há poucos anos,
quando deitados nas calçadas pela primeira vez
repeti o meu verso já antes dito para ti,
criei novas muralhas e guaridas
para que as tempestades de verão não abalassem a nossa cama...

Pois quem tem no outro a parte de si que faltava
diz com total propriedade
que a saudade é a tortura de quem ama...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deusa de hinos, Senhora de mantras



Se quiseres, ainda podes pintar minhas mãos
com teus corações reluzentes...
Se quiseres, não mais que de repente,
faças de mim um velho novo
a voltar para os dezoito...

Se quiseres, esqueçamos os 50 de casados
e corramos pelas ruas
a tropeçar sem as muletas
e sem olhar para os dois lados...

Se quiseres, teu feijão pode queimar...
Nós beberemos coca-cola em todos
os cafes-da-manhã!
Se quiseres, deixamos as doenças de velho,
a cirrose, a gastrite,
a tal da febre terçã,
e vamos para a Quinta
andar naquela curiosa bicicleta...


Se realmente quiseres,
te ensino a tua História
e tu, a mim, Filosofia.
Se quiseres te dou mais poesias,
já que és tu mesma quem as me dá...

Se quiseres
dá-me a tua paz em sirene alta
do meu corpo em chamas,
digas que me odeias e que, depois, me amas...

E então, finalmente,
nestes momentos vespertinos,
te faço outras letras,
outras músicas, outros hinos..

domingo, 21 de agosto de 2011

Tinta de pintar



Quando fores chorar
levas meu ombro,
que são montes por onde correm teus grandes rios...

Quando fores chorar
levas contigo meu peito
e toda a forma musculosa de carícia...

Quando fores chorar
clama ao meu beijo noites de felícia,
pra que a dor de tuas angústias
torne-se também meu agouro.

E ao crescer,
na consciência que excitada faz galgar,
chama meu nome em cada esquina,
pois inda te vejo qual menina
que necessita ter-me perto a respaldar...

E ao crescer,
na infinutude com que te apresentas,
te mostro minha dor quando te ausentas
e as lágrimas no rosto a sangrar...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Imperatriz da Luz (Saudade II)



Sinto saudade das nossas andanças
das gramas presas em minhas pernas...
Sinto grande falta de tuas palavras ternas
que costumavam me afagar
ante a dor de não querer perdê-las.
Saudade tamanha de tuas novelas
que também foram minhas
por toda a hora de amar...

Saudade dos nossos banhos de mar,
dos pupilos que te chamam
na casa de minha avó...
Saudade tenho de toda a parte
que de mim só a ti cabia.
Tens a parte da minha brandura,
da minha alegria.
A parte que eu sempre mais gostei...

E se quando vieste pra mim
julguei-me rei
foi porque tu trouxeste em ti a rainha...
A parte de mim que cabe a ti
é tua.
A parte de mim que cabe a ti
é minha.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pelas tardes que me deixaste (Saudade I)



Sinto saudade dos teus olhos
que penetram os meus em celeste claridade
Sinto saudade pelos domingos a tarde
em que não a vejo.
Saudade também do nosso desejo
profano, divino,
de quando éramos ainda duas crianças...

Sinto saudade das tuas esperanças
de casamento sacro e duradouro.
Saudade das ilusórias alianças de ouro
pra um amor que é, e sempre foi
tão real...

Saudade das nossas lutas com o mal
da não fé, do fanatismo.
Saudade dos teus incensos esotéricos
e das saias que ainda rodam em minha mente.
Saudade da boca sorridente
que me possui em ardilosos beijos...

Saudade do que te completa
do que te torna reta
do que me deixa roto...
Tu foste e ainda não voltaste.
E temo, ao decorrer das tardes,
em tua volta achar-me morto.

Pois nessa nova névoa
que em densas brumas tem se revelado,
ainda espero, sem carne,
a tua chegada...

Abro os olhos ao som
de qualquer pegada
e as pupilas vibram a cada ponto de luz...

A claridade que sempre me amara
faz-me, na falta de mim,
escravo morto-vivo, sem escamas
preso por um só prego na cruz...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dona de meu ser



Lembra-se de quando lhe encontrei nua em seu quintal?
De quando brincávamos de esconde-esconde
a deitar entre as pedras por onde nos esgueirávamos?
E dos tempos que soltávamos os papagaios do teu avô?
Te lembras? Te lembras?

São tempos ávidos em minha mente
Tempos de amor e de amar a todo momento...

E tu, doce de meus lábios cadentes
Tu me eras um tormento
de desejo e excitação juvenil...
Minhas poesias eram sempre um prato
de alívio ante as horas sem teu colo,
sem teu seios a me afagar...

E os banhos de lua que tomávamos
todos os dias
faziam de tua pele mais alva neve que a própria neve
E tudo aquilo que eu lhe devo,
tu, creias, não me deves...

Nosso amor que se perdura
em tão pouco e transcendente tempo,
é-me o alívio por achar-me em ti.
É-me a certeza da volta do Sol
depois da noite de escuridão.
É-me o céu no inferno.
É-me a agitação e o ermo,
o início e o término,
gélida água em ebulição...

Um poema de amor



Aqui está a poesia que tanto me pediu.
Talvez um pouco morta, um pouco fria,
mas meu peito por ora está assim...

Um coração que já bate pouco
sempre espera por morte em tuas faltas...
Parece-me, creio, aquela escuridão voltando...

A luz do Sol não é Claridade.
A luz da lua não é Claridade.
- Como querer a minha não-tristeza?

É teu ser, menina branca,
que me alumia a cada passo dado.
É tua Claridade que me abre o sorriso
e faz-me sempre olhar pra frente,
a esquecer-me, sem medo, os lados...