terça-feira, 31 de maio de 2011

Saudade





Passarinho azulado
Pequenino de frio
Que na chuva ou no sereno
em mergulhos alegres num rio
Chora a mamãe perdida
e os irmãos que lhe abandonaram...

Que pia, furtivo e tristonho
pela lembrança dos que já o amaram

domingo, 29 de maio de 2011

Que eu não me perca em não te amar





A angústia que nasce com a manhã
no fim do dia não se finda
Pois é na noite, negra e cálida
que teu rosto e tua voz, aguda e pálida
me fazem ainda mais chorar...

Os ares não me são novos
nem estrelas brilham no céu
Pois é na noite, noite minha, somente
que vejo teu rosto em minha mente
que vejo teu ser amável voar...

E mais uma vez não estás comigo
Mais uma vez não estás em meu ninho
Então permaneço só, e triste
sem teus seios a me darem o necessário carinho
Sem respirar de ti o mesmo ar...

Mata-me de vez, Senhora das Neves vermelhas
de batom, brincos e esmaltes
Não deixes que meu peito outra assalte
e que eu me perca em não te amar...

Tua ausência é falta de mim mesmo





É sempre na tua ausência que me perco
e caio dentro do que está fora de mim...

É sempre quando não te acho nas ruas
nem nas salas por nós habitadas
que vejo pelo ópio duendes e borboletas
a lutar com demônios nas escadas...

Nas noites frias que tu me tens
Eu não te tenho, bem o sei
E isso faz de mim o pior entre os homens
E o pior entre os poetas, creia

E em meus poemas
que falam da terra, de deuses, fadas e sereias
só conto o que não há de me convir...

Porque o amor
e a vontade de "estar perto, se longe; e mais perto, se perto"...
Ah, esse ínfimo desejo
eu só encontro em ti

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Delírios da Poesia





A poesia foi quem amou de verdade
Amou o poeta ainda que inconscientemente
Pois mesmo de forma oculta
Sabe que o poeta
vagabundo eterno pelas vielas do mundo
é o único que lhe compreende, que lhe interpreta...

Por isso, num desses dias
que o poeta escreve
Como em todo grande amor há ilusão
Deixou o poeta só
a esperar pelos comandos do coração...

E o vagabundo deveras nato
não pôde mais escrever belamente
Porque seu peito era escuro e frio
Era cheio de dor, somente...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Claridade





Em verdade lhe digo
a vontade de ter-te como Marília
e ser teu Dirceu apaixonado...

Mas de tão distante que estás
que ainda de corpo aproximado
desata-me os nós de prantos de jovem
e desloca-se de meus peitos, de teus navios, o cais
não vejo se curarem as chagas
nem cicatrizes de meu coração...

E em vão
Na ebriedade de meu ser alado
grito teu nome pelas esquinas
a procurar teu vulto por todos os lados...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Solidão sem palavras





Quando o poeta
perde o dom das palavras
Sua mão treme
seu peito pára...

E ele, enfim
se dá conta
de que nunca foi um fabricador
do amor

E seu caderno
de anotações e poemas
Fica vazio, todo branco
Quando não se perde
em rabiscos infindáveis
de pensamentos incompletos

Pobre dor de (pseudo)poeta
que de aplauso, orgulho e cafés
Se derruba à alegria dos atos
dos seres normais...

domingo, 22 de maio de 2011

Queda Livre




Se é quando a lua brota da escuridão
e quando o frio é mais intenso e ávido
Que a inspiração toma-me o peito
Aproveito impetuoso vento propício
à prática do ofício dos eleitos...

E na vida, cheia de encontros e adeuses
e amores que sempre vem e vão
Escrevo cartas pras moças brancas em sirene
Escrevo pro mundo que chora, perene
E pra dor negra, pra Solidão...

E mesmo quando há em mim um casal
de apaixonados, de apaixonados
A lua que brilha não brilha mais intensa
Por que amar sempre me há de doer, de ferir
Mas que é o amor o néctar divino,
matiz de hinos, é...
É o Amor, que me faz chorar e rir...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Partida de amor





Não vá embora
Por favor!

Por favor
Não vá embora!
Eu ainda não disse
o quanto quero te amar
O quanto você me faz bem
e me faz acreditar na
sobreposição do amor doído...

Tu alegras minhas noites
com teu sorriso vermelho de batom
e teus brincos de lua
e flores rosas...

Não vá embora
Não vá!
Por que hoje
no mínimo perigo de te perder
eu chorei...
Chorei sim, ainda que internamente
pra disfarçar minha fraqueza
perante a muralha de sua existência...

domingo, 15 de maio de 2011

Eu sou a Lua




Dizem que Sol e Lua não se dependem
nem se enamoram em seus desencontros...

Isto é calúnia
ao amor dito pelos deuses
Que enfeitiçam estrelas e astros
sem que o fogo de um
lamba o frio de outro...

Qual é minha felicidade!
que não toca nem é lambida
Que vagueia solitária
nos abismos astrais
Entre os ventos e sons
inexistentes
Se achando no meio de vida e alegria
num espírito sem amor
e doente.

Ventarolas





Ao teimares na beleza
meu peito por ti estremece
Como quando o mar se revolta
cansado das ventarolas do céu...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Fanque





Som dos infernos
Seja lá o nome que dás...

Som dos agouros
de morte, de azar
de todos os umbrais

Som que estremece
as vidraças frágeis de meus ouvidos
Som que descende
dos atabaques catimbozeiros
dos oprimidos...

Som promíscuo, infame
de luxúria e perversidade
Tú, o som das trevas milenares
- Morras em teu próprio terremoto! -

Ó som impiedoso de impiedades!

Álcool de Beber





O álcool das minhas garrafas
é remédio ao espírito choroso
Das angústias de ser não-amado
Das calúnias por não ser um rude

E então derramo álcool
pelos homens que são tiranos

Derramo álcool
pelas de-casa que servem, rebaixadas

Derramo álcool
ao mundo dos oprimidos e doentes
e jogo a pequena centelha
esperando o milagre da combustão...

Pois quero fogo, quero morte
Quero o fim da sorte e da solidão

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Música de Maria





Menininha das minhas tardes
que corre fagueira
ao encontro de meus braços vis
Que me acolhe em seus seios de nuvem
com todo o amor de irmã
que eu quis...

De palavra bem longa
em conversas deveras esclarecedoras
Envolve-me em um manto
de luz e rubor
de textura mui consoladora...

És tu, do nome da Puríssima Mãe do Senhor...
Maria, quiçá das alturas
Que já nas terras escuras
dá provas de seu amor


Para Maria Clara (Colégio Pedro II)

Carta de Confissão





Quando dei por mim e cá estava
voltei logo a ser o que era:
Retornei ao mundo das quimeras
onde o braço não acompanha
o andar do pensamento
E agora amo em qualquer momento
e volto a escrever por onde meu peito passou

Eu não escrevo o que quero, eu confesso
Eu só escrevo o que sou...

Carpe Diem





Ditam regras e costumes
moralistas animais
que não fumam
nem bebem, nem transam
Que vivem no ócio
destrutivo da inércia
Que vivem num não-ser
que não sofre
e maltrata...

Cachoeira de Pedras





Água de cachoeira corre
Corre, corre ligeira na mata
verde de pedra
Que quebra, quebra ligeira
nos protestos da Revolução de 30...

domingo, 1 de maio de 2011

Oração de amor à Pátria





Sinto falta de lutar pelo meu país
De lhe ser um grande homem
Bravo, sem temor...

Sinto falta de mãos a lançar pedras
e de mãos a dar o necessário amparo
Falta de louvor à bandeira
e ao comunismo operário...

Sinto falta dos tempos vermelhos
e das rebeldias contra os tiranos de Getúlio...

Volte, oh meu patriotismo
Quero de volta o que me foi tirado
Eu quero morte ao Capitalismo
pelo que de mim foi roubado...

Viva Prestes e Machado de Assis
Viva a Política sana
e a poesia bacana de meu país...


Benção a Vinícius
a Toquinho, à Bethânia...
À danação o Tio Sam
os States e a Bretanha...

Viva a minha poesia, Brasileira e Moderna
Viva a independência mental para um Brasil de novas eras...