sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Louvemos aos putos

Todo filho da puta merece um poema.
Não porque a mãe é puta.
Não.
Normalmente a mãe desses filhos da puta não são putas.

Nem sei ao certo porque os chamamos assim.
Putos são esses filhos da puta.
E eu sei que você me entenderam.

Pois bem:
Todo puto ou filho da puta merece um poema.
É um desgraçado, coitado, não tem nada na vida.
O que de melhor lhe pode ocorrer nesta existência
senão nossos escritos a engrandecer suas almas medíocres?

Poesia aos putos!
Poesia ao filhos da puta com mãe puta ou não.
O que vale ao poeta é a escrita, e nada mais...

Louvemos aos putos - que a santidade já possui altares.

Aos pseudo-poetas

Deixa de ser merda!
Deixa de ser vazio, sem peito, sem alma,
sem medo!
Não vês o quanto és reflexo convexo da imitação dos outros?

Que os deuses se apiedem de sua carne,
e que a doença de não-ser nunca lhe pegue - se possível!
Ojeriza-me a criança que já pensa e age qual adulto,
e velho, e morto; que se envolve numa tumba de pseudo-sabedoria,
que finge escrever poesia
mas nem às fraldas mijadas sabe reclamar!

Vade retro, coisa nadificada!
Vai-te embora às tuas obscuridades improdutivas!
Deixa de ser merda, eu repito.
Deixa de ser merda enquanto há tempo de cheirares bem!



Aos pseudo-poetas, o que não me exclui.

Nascimento do poeta

Fui parido pelo Amor!
Lançado pelas cornetas do Paraíso,
aterrizei neste mar infértil e desalmado da Terra
para espalhar a poesia divina
no peito e na raça dos Homens!

Fui parido dos deuses
e dos mendigos que passam fome!
Eu sou poeta, não sou gente!
Não sou de carne, nem sangue corre em minha veias!

Eu vim ao mundo por vir ao mundo...
Pisando firme, espalhando vou
a minha erva a borbulhar caldos
e dividir as almas à contemplação!

É este o meu quinhão!
É este o meu quinhão!
Sou poeta, não sou gente!
Sou produto do amor - sou adulteração!

Hermanos no carnaval



Veja bem, meu bem,
o que eu vi passar.
Eu vi o bloco de uns barbudos
lá do sétimo andar!

Eu to saindo do apê.
Eu vou pra rua dançar.
Tira uma foto bonita,
manda o retrato pra Iaiá.

Olha o vento passando,
os passarinhos cantando.
Esse bloco dos barbudos é o melhor do carnaval.
Tira esse azedume,
essa tristeza, esse negrume.
Se veste de pierrot e vem ser sentimental.

A Anna Julia chegou.
Alguns hermanos tão vindo.
Vem que não demora,
passa rapidinha a hora,
e o cordão já tá subindo!

Veja bem, meu bem,
eu não só vi passar.
Eu fui pra rua barbado,
eu fui pra rua sambar!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

[Sem-título]

Tanta tristeza confundiu-me o pensamento.
Não sei o que sou sem a tristeza.
Cada sorriso que dou é farsa,
encenação imperfeita do que certamente não sou.

Tenho pena de minha alma.
Não ama a ninguém, por amar todos.
E por amar a todos, enloucura-se.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Olhos de mar

Menininha dos olhos verdes,
há quantos anos nos conhecemos?
Quão terna é nossa amizade
que o carinho é qual ad aeternum!

Este é só um poema
que eu fiz rapidinho
pra lhe ofertar.
Farei-te breve logo outros
do tamanho do céu
e do tamanho do mar..

Para A.S.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Encontrei meu velho amor no carnaval

Me desespera o desespero da tua pele,
o "tchau" não dado pela falta que faria.
Arrepia-me saber das coisas que se foram
e que não voltam nem se os dois quisessem.

Os olhos de despedida
e as mãos que não se tocaram.
Arrepia-me o vulto que somos
e os dissabores de nossas lembranças.

Somos livres, finalmente,
na liberdade dolorida das coisas não ocorridas.
Somos livres,
e passos largos em direção à dor no peito.

Estamos fantasiados de prazer e euforia,
é noite de carnaval.
Estamos vestidos de bom cheiro e vida,
enganosos de nossa própria desgraça.

E qualquer que seja a graça que se faça,
nossas máscaras cairão quando deitarmos em nossas camas.
E haverá um amor que já não existe pulsando,
como a criança chorosa que eternamente chama.

Quarta-feira de cinzas

Crepita o fogo das horas,
o desejo do poema
- A casa morna das almas,
onde dorme o monstro naufragado.

Sentir-se só,
ventura aos homens corajosos,
é ter nos pés o desejo de ser alado.

Belo é ser fraco e poeta eternamente,
e ser a casa das almas pobres da riqueza.
Ser um barco a navegar despovoado
num mar de muita dor e solidão.

Poesia, o fogo crepitante da euforia
em um coração de amargura magoado.
Celeste alegria dos poetas
que a escrevem e a pintam
em cadernos de pauta azul rabiscados...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Vida

Vai-se o rumo na vida.
Vai-se o fio da meada.
A poesia galopeia no fora do tom
das coisas que não se dão tempo de serem ditas.

Vai-se o rumo na vida,
que a vida não é um ato de poesia.
É antes o borbulhar das coisas que não se dão tempo,
o vento sem o cheiro do pão fresco,
a borboleta morta e o Sol tapado com uma cortina cinza.

Vai-se o rumo que não era vida,
que era o caminho de não-vida, poesia.
Vai-se porque hoje muito se vive
e pouco se escreve.

A poesia é morte das coisas não-mortas.
A vida - tudo aquilo que não se escreve.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Homem-deus-uno-múltiplo




O entusiasmo do poeta Íon e as bacantes,
a lascívia dos sacrifícios do grande bode.
O compasso desmedido da hybris flamejante...
Ó Grécia, louvar teu Dioniso é pra quem pode!

O Sol da lógica do reto pensamento,
a coroa do saber e de tudo o que é regrado.
Louvar o vinho é se querer o sofrimento...
Louvar o teu Apolo, ó Grécia, é estar santificado!

Mas que louvem a mim, o novo deus!
Que me louvem e me rendam oferendas!
Deem-me flores e frutas e vinhos,
mulheres nuas e carinhos,
que eu sou maior do que o próprio Zeus!
Eu sou o Homem Um e o Múltiplo,
homem-mistura entre o profano e o sagrado...
Se Apolo me guia pela cabeça,
é Dioniso quem me está ao lado!