sexta-feira, 29 de março de 2013

Ele foi e não voltou




Boa noite, meu Jesus.
Durma pro Sono da Vida.
Manda um beijo pra Deus
e pra quem mais estiver por lá...

Boa noite, meu Jesus.
Vá mas fique conosco
acordado. Acordado
nas ceias de nossa carência.

Meu Jesus Homem virará
Jesus Menino quando dormir.
Vai brincar nos campos serenos do Céu feito criança
por três dias.
E então Jesus Menino vai voltar
com a esperança e a alegria de quem acaba de chegar.

Estamos esperando, Jesus Menino.
Esperando o tilintar dos sinos
e o soar das trombetas ao vento.

Não sei se aí no Céu tem calendário, eu não sei,
mas os três dias já passaram há muito tempo...

terça-feira, 26 de março de 2013

Considerações irracionais I


É necessário uma distinção preconceituosa de minha parte. Não espero que me perdoem. Há os que vivem em ser o que são, e, ao meu ver, estes são os únicos que vivem, e há a grande maioria, e talvez você seja um deles, que é apenas reprodução da reprodução da reprodução. Eu já escrevi sobre isso, acho. Mas volto a falar. Há de se tomar um rumo, uma via para qual devemos nos apontar. Escolhe-se o empírico, perde-se a fundamentabilidade; escolhe-se o inatismo, generaliza-se o que é ingeneralizável. Escolhi a via da não-via. Isto me recorda Sartre. Mas aí, em contrapartida, me vêm cristãos, budistas, comunistas, justos, sãos e mais uma caralhada de definições-prisão que me enlouquecem a alma tentando me convencer da inutilidade de minha não-busca, da idiotice de ser o que a mim projeto. Somos aquilo que fazemos de nós mesmos. Obviamente este meu discurso é uma desculpa aos meus próximos, que muito me suportam, quanto às tempestades que tenho me tornado, e quanto aos atos amorais e/ou imorais que tenho praticado. Não sou justo ou injusto, louco ou são, hétero ou gay, mono ou politeísta... Sou tudo isso quando me convém, ao mesmo tempo que também não sou. O Ser é; Ser é; É É: dá no mesmo.. Que apenas sejamos. SER. Porque atribuir ao Ser algo que lhe é externo, é lhe configurar em algo que ele não é. O Ser não é passível de atribuições. Quando lhe dizem bonita mentem. Quando lhe dizem feia, igualmente mente. És nada disso. És, apenas, e obviamente se te projetas a ser.
Não sou Guilherme. Não sou brasileiro. Não sou o que quer que seja. Sou. Apenas isto. Chama-me por Ser, ou É. Não que ficarei feliz. Ficarei eu. Ficarei Ser. Ficarei É.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Só as crianças amam



Há muita burrice em amar.
Que idiota pára diante de uma fotografia e a fica admirando?
Só as crianças fazem isso com seus ídolos.
E convenhamos, as crianças são muito estúpidas. São belas, e estúpidas.

Chego a pensar se não há só burrice em amar.
Não, não digo burrice no amor. Amor é amor.
A merda é amar.
É, só há burrice em amar.

domingo, 24 de março de 2013

Tolo e grande

Tolo.
Tolo e grande como o menino
que vê no peão o giro do mundo.
Tolo e grande como o menino
que vê na pipa seu corpo no ar.

Tolice grande é estar com a concha no ouvido,
e o oceano frente a se dar.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Ai de mim!


Ai de mim, que quero ser o escândalo necessário!
Se a morte lhes resolve o problema: mato!
Se a navalha na face lhe rebaixa ao seu posto: corto!
Se o porrete lhe quebra a cabeça imperialista: traumatismo craniano!

Ai de mim, e louvado seja eu
se esses são os desígnios de Deus!
Se é necessário o escândalo, Senhor, cá estou!
Se a morte veio buscar os impiedosos, eu me disponho:
dá-me a tua foice, Morte, que vou!


(Em protesto à minha inutilidade cidadã e à minha passividade diante das atrocidades do Estado neoliberal e fascista)



segunda-feira, 18 de março de 2013

Brancura das manhãs cinzentas

O negro dos teus olhos é de luz,
e a brancura de tua face é calmaria...

Quando o tempo se acinzenta
e desespera,
é tua lembrança que me clareia o dia!

sábado, 16 de março de 2013

Poetinha cachaceiro

A bebida é o único refúgio do poeta.

Nada de alvo seio,
de cabelos negros e entrelaces...

A quentura está numa caneca de rum,
e orgasmos nas doses de catuaba...

Se o amor lhe responde é lucro, meu poeta!
Se não é só um copo de cevada!

Vaziez

Estou transpassado pela inutilidade.
Minha vida não é vida.
Sou o mito, a engrenagem ignorante,
o parafuso inconsciente.

Como prosseguir?

Prossigo, não penso.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Migrante


Eu tinha braços maiores,
e a cabeça menor.
Meu peito era o mais grande
dos mais grandes.

Hoje a cabeça cresceu.
O coração tá pequenininho.
Não sei o que o mundo fez comigo,
e o que eu me fiz no mundo.

A saudade é grande.
São tempos que ficaram pra trás.
E o velho sorriso que eu tinha, não,
não volta mais.


Pelo dia 08 de março

domingo, 10 de março de 2013

Poesia de parir

Poesia é parto.
Parto normal.

Escrever é cuspir o amargor do mundo,
é como se libertar daquilo que lhe liberta.

Poesia dói nos quartos mais claros da alma.

Escrever é um ato de sacrifício,
é tecer sobre a própria pele todo amor e todo dissabor da vida.

Poesia é apagar a luz e se deixar sozinho na escuridão.

Poesia é parto normal.
Parto normal no escuro.

Grita-se, poema-se: mais uma culpa ao mundo.

[Sem-Título]

É tonto o poeta que ousa
na ventura de uma saia
firmar o seu pensamento!
As saias são como o vento...

E as mulheres lhe são tufões, ó poeta!
Esquece, que amado serás jamais.
Esquece, lembra-te de que és o mais torto
de todos os caminhos tortos...

Firma tua carroça numa ladeira bem íngreme.
Solta os freios, vê no que dá!
Assim deve ser tua vida, poeta:
O eterno fracasso ao muro que estoura.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Simulacros do Eu

Agora há um Sol lá fora.
Uma luz que entra em minha sala
mas que não entra em mim.

Eu já tentei ser luz.
Desisti.

Nas cortinas da janela de minha alma
há gordura de muita vida parada.
Talvez a claridade de minha vida seja estar na escuridão,
mas de nada sei.

Luz, só na constituição de minha treva
por aquilo que ela não é.
A minha luz descansa nos quartos que não eu.

De resto, obscuridade e imitação.
A verdade na mímeses,
no terceiro ponto afastado da verdadeira realidade...

Se sou, sou naquilo que também não é.
Simulacro das Verdades, que não existem.

Me fizeram poeta - mataram minha luz.

A-amor

Não amo ninguém.
Não amo alguém.
Amo mais o que sinto quando digo que amo.
O prazer do peito e suas ondas turbulentas,
as tempestades do âmago à boca pequena.

Amo mais o amor que o ser amado.
E quando digo amar alguém,
o que amo é o processo.

Perdoem-me, meus endereços de amor,
mas vocês me são apenas endereços.
A carta, mais ser que seu destino.
A carta, mais amor que qualquer amado.
Que o amado é mesmo o que se vai até quando chega
e se desfaz.

Não amo a chegada.
Amo o amor, o caminho.
Que o amor é o único
caminho a ser percorrido.