sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fere e mata




Para que acordar
se terei que pensar em ti?
Para que acordar se
você não estará junto a mim
quando eu chamar teu nome?

Para que levantar
se não serão os teus pés
que irão me guiar?

Para que falar
se não será a tua boca
a me conduzir?

Não sei...
Não sei por que viver
se teu peito não bate compassado ao meu
no mesmo vai e vem
de amor e desejo

Pra que amar
se amar dói tanto?
Por que sofrer
por alguém que já ama outro alguém?

Maldito coração
Te feres e machuca todo meu corpo
Maldito coração
que não pede para amar
e que ama sem saber
quem está amando

Te odeio, amor
como tenho odiado a mim mesmo, ultimamente
Mas basta, somente
que tu me venhas correspondido
para que eu te coloque de novo
no teu altar
reservado em meu peito



Para Y, com um amor que supera a dor que mata

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

É assim mesmo

O amor ri da gente
nas noites e nas manhãs primaveris
onde a dor se acomoda mais depressa
Como é doce a dor de amar
Como é doce o sofrer que nos transforma
em bêbados desvairados

Quero, ó Deus, sofrer eternamente
pela musa inexistente
que principia minha dor
Quero, ó Deus, não a cura imediata
Quero, sim, a dor que mata
Quero, sempre, a dor de amor


Para Y

Meu mal do século

No meu frio quarto
acendo meu velho charuto
como a dar despedidas a um velho amigo
Vivo intensamente
os instantes ligeiros do meu mal do século
Trago devagar
deixando a fumaça alcançar meus olhos
e os fazer cuspir
sobre minha face obscura
Preciso aproveitar minha tristeza
enquanto a alegria
não retorna da viagem
Junto ao fumo
bebo o whisky que mamãe me deu

E vou dizendo adeus
E vou dizendo adeus

O caipira e sua canção desvairada do exilío




Minha terra tem mandioca
e café e cana doce
tem enxada e foice afiada
como os olhos de qualquer vizinho

Meu sítio donde trabalho
dá mais fruto do que a vó
E não tem máquinas mecânicas
que separam o homem da terra

Meu trabalho é duro, árduo
não é como na tua terra
O estrangeiro me sufoca
e me tira a pá das mãos

Lá não toco na batata-doce
na jaca, no melão
Lá não tenho a licença poética
de arar com as unhas grandes
Lá não piso com os pés
- eles são todos de ferro ou dum diabo qualquer!

Minha terra tem serviço
pra homem, mulher e criança
Tem mato grande e carrapicho
pra deixar a calça enfeitada
Tem cigarro de palha e rapé
que ajudam na dor da Derradeira

Tem labuta boa
cantada por cururu
Tem o senhor Jesus
e o Cruzeiro do Sul