domingo, 29 de abril de 2012

Minha cabeça













Viu quanto vazio?
E ainda pedem uma resposta concreta,
e ainda esperam de mim a definição Sou mais idiota....
Risos, poupem-me.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Palidez sadia




Boa noite, moça.
É com muita vergonha que lhe venho...
E espero que não seja com desdenho
que recebas esta carta de saudades.

Hoje faz mais alguns dias
que não nos vemos, nem nos falamos...
Parece até que nunca nos amamos,
que nunca tivemos amizade.

Dizem que é teu direito sumir
e se livrar, mesmo que superficialmente, de mim...
Mas bem sei que não é assim,
sei que a vontade de rever é grande.

Espero que tenhas melhorado
e que minha carranca já lhe tenha sumido...
Sempre estive contigo, sempre lhe fui amigo
e de monstruoso só tenho a minha inconstância.

Hoje não sei ao que me dedico.
A liberdade é muita e extasiante.
E muito embora me cause o gosto rascante,
o vinho tinto sempre há de ser bom...

Que as águas corram,
e corram depressa para que nos vejamos.
Pois que a história e a filosofia são amigas de anos
e não somos nós quem isso determinamos.


Sim, é para você.

Desconstrução histórica


Meninos e meninas não dizem a mesma coisa.
Uns falam em azul, outros falam em rosa...

Mas quando a escravidão do gênero
não mais açoitar os seres e estragar as prosas,
meninos e meninos, ou meninas e meninas,
enfim dirão a mesma coisa
nos mesmos lares, nas mesmas esquinas.

A fala então será unívoca,
e as crianças se darão mais livres.
Louvarão a sophrosyne e a candura
e rejeitarão as mazelas da hybris.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fumaças


Vou me comprar um café
Acenderei meu charuto.

Mais vale o homem de fé
que o homem são, e bruto.

___________________________________
(ou não? meu Deus! que inconstância!)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Soneto de um coração perdido


Flor da noite ensimesmada,
de negritude e bela candura
Tua pele e teu pelo liso
são do homem desventura...

Olhos de mel doce, voluntários,
e costas de rolar pelo chão quente de amor.
Soltas tua voz de sabiá
a voar dentre as árvores de meu peito...

Quem sabe sou do teu canto o eleito,
a gaiola aberta onde repousarás
tua dor...

Quem sabe minhas grades lhe sejam afáveis,
lhe causem descanso, mesmo graves.
Quem sabe sejam tua cor...

Bebida alcoolica


Um caderninho à toa
confessa a grandeza de um homem
ou a sua torpeza
pelas palavras ali desenhadas...

Umas folhinhas bobas
com mil rabiscos acidentais
entregam o coração do homem
e suas fraquezas...

E a caneta, então, oh,
nem se fala!
É o instrumento, a arma, o arco
com que o poeta exprime sua dor...

Caderno, papel e caneta:
coquetel barato de amor...
Caderno, papel e caneta:
coquetel barato de amor...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quadras


Quando o homem anda na rua
é todo o mundo que ele empurra,
é todo um mundo que ele segura,
nas costas...

Quando a criança come o chocolate
não sabe do fato de aquilo ser doce,
não tem noção, mesmo qualquer que fosse
a guloseima...

Quando o feto é abortado
é todo um mundo que se joga fora,
é toda transformação do que seria agora
na morte...

Quando a humanidade diz o sim à guerra,
será o poeta quem falará da dor,
será o poeta quem nos dará a cor
da vida...

Mas que se danem os 'quandos' e os 'porquês'!
Se a vida é a morte do morto,
a morte é a vida do aborto,
Heráclito.

Shhhh


São os carros que fazem barulho
São as motocicletas e também caminhões.

Repare quantas sirenes, quantas buzinas,
quantas turbinas...
O mundo está barulhento,
cheio de ruídos.

Tirem isso tudo!
e também o barulho do ventilador,
do forno de micro-ondas
e da televisão-porre
que meu avô vê durante todo o dia...

Tirem isso tudo!
deixem só os passarinhos,
as borboletas e o correr das águas...

Sem o barulho das britadeiras
o mundo é muito mais visitável.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Oito e Quarenta e Sete


Se as águas do rio correm
e não cessam seu caminhar,
assim também é meu amor,
infinito em transformações.

Se o que corre, corre,
e o que voa plana num espaço finito,
assim também é meu amor,
bonito em suas próprias concepções.

E, se as minhas lucubrações
são infundadas e os pormenores divagações,
assim é também a minha vida,
banhada ao ouro das ilusões...

sábado, 7 de abril de 2012

Minha senhora tentação


Senhora,
por que isto comigo agora?
Por que me prendes a memória,
por que me forças a só em ti pensar?
Quero voltar a ser criança,
quero não mais ter esperança,
quero não mais querer te amar...

Pois por ora é meu corpo quem responde,
é ele que se esconde
do tremor que lhe aparece
ao pintares com tuas cores
essas noites tão cinzentas...

Senhora, por que não te ausentas?
Por que não me deixas só,
sem tocar ao menos no meu nome?
Deixe-me dormir com fome,
faça-me jejum forçado.

E quem sabe só assim apago
a senhora tentação que és.

Mulher, te escondas.
Não me venhas mais aqui, não me apronta,
tu não sabes da tentação que és...


Para B.I.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um Quê de niilista


Os homens não voam,
não soam, não pedem...

Os homens não levam
nos bolsos
o amor.
Os homens não levam
na cuca
a brisa.


Os homens só gemem,
produzem e esquecem.

Os homens carregam
somente
suas merdas-modelo
na mente...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Treva-Luz-Treva-Luz-Treva-Luz-Treva


Não há dor maior que a de um coração que ama
e que não abandona o amado
pelos prazeres vis do mundo...
Porque o amor nunca há de fazer doer.
O que dói é a carne,
é a carne que tremula...

E o prazer que o amor simula
não se compara a profanação:

Exu, tu tens o meu corpo
Xangô, tens o coração

Exu, tu tens o meu corpo
Exu, tu tens o meu corpo
Exu, tu tens o meu corpo

Xangô tem o coração...