segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Antes da tosse, o nó



Tenho palavras presas na garganta.
Letras confusas, misturadas.
Não sei dizê-las...

Tenho palavras presas na garganta.
Letras nas pontas dos dedos.
Mas não sei... não sei.

Tenho letras na garganta.
Palavras na garganta, nos dedos.
Não sei querê-las, não sei.

Tenho sentimento em cada ponto do meu corpo,
e é nas palavras que a Poesia faz a festa.
Viva a dor de não saber usar o que se sente...
Viva a dor de ser um poeta com medo, dissidente.
Viva a dor de ser da escrita, da própria dor...
Viva a dor do fogo da angústia, do furor.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um Haicai para o mestre




Matemático
Só assim eu o julgava
Mas vi que me enganava!

O mestre ser poeta
Não é cascata!
Vai ver que a Poesia é também exata!

Que alegria
Foi saber desta surpresa!
O mestre escreve que é uma beleza!

Mas já por ora
Peço perdão!
Sei fazer Haicai não!

E vou-me, mestre
Um grande abraço
Feliz pela Poesia correr em teu braço!



Para o mestre Cristiano!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Amor de pseudo-poeta



Te amo por todos os dias
Pelos dias que foram, pelos que são
Pelos que ainda estão por vir...

Te amo quando aqui estás
e quando vais, sorridente,
procurar a vida por cantos que não estou...

Te amo pelas flores que não dou
e pela timidez de teus olhos brandos.
Te amo pelo sim e pelo quando,
quando exito por não te ter a me guiar.

Te amo aqui em minha cidade,
e nas serras em que ando...
Te amo pelos meandros
que me levam sempre para teu amor...

Te amo pelo que não sei
Por querer-te mais que tudo nesta vida
Por seres a claridade de minha noite
Por seres teu próprio deleite, e eu complemento.

Te amo por este momento,
em que estás na tua cama, e longe eu estou.
Te amo porque sei que se tu me chamares,
eu largo toda a poesia, largos todos os poemas, e vou...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fotografia



És filha de deuses, meu azul celeste.
Fulguras meu peito em tons multicolores.
És um parto sem dores,
és o inverno, o agreste..

Formosa mulher, de pele alva que tanto me encanta,
não sabes do amor que sinto por ti!
Não sabes de todo o amor que o poeta canta,
nem que dos males que espanta por simplesmente existir!

Doce mel de minha boca seca, açúcar de meu peito muito amargo...
Carregas em teu coração o fumo
de um fogo limpo que feliz eu trago!

Ser individual e puro, tu que de mim arrancaste o obscuro
não sabes da alegria de ter por perto a tua luz...
Deste-me claridade divina, e hoje, na qualidade de menina, és a mulher que me conduz!

domingo, 18 de dezembro de 2011

A prostituta do trem



Meretriz menina,
te vi hoje no trem...
Cansada, franzina,
dona de uma tristeza sem igual...

Por Deus, nosso Pai,
que dor estava em teus caídos olhos!
Alegria não mais, eu sei,
só a vontade de ser o que hoje não és.

Meretriz menina,
que espécie de lugar te abriga,
que cabarés compram teu corpo
de virgem, de pureza, de inocência, de infância?

Por Deus, nosso Pai,
que pescoço que não se ergue!
Quero saber dos vermes que lhe encostam,
eu não consigo crer...

Meretriz menina, segue teu caminho,
salto eu na próxima estação.
Foi desconfortável ver-te hoje,
tão fora de si.
Foi desconfortável saber que fui amar uma mulher de verdade.
Que precisei ir embora. Que precisei saltar,
e te deixar ali.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Carta aos pais neoliberais


Horizonte de utopia nesta terra se estilhaça:
não há bem o que dinheiro produza
que pague as vidas que traça!

E tu, da média classe brasileira,
classe mérdia e trambiqueira,
deverias juntar-te aos pobres, tua classe verdadeira!

Mas por teres já um carro
e teus móveis por prestação,
pensas estar num nível elevado,
pensas ter um importado enquanto dormes no chão!

Ah! homem-pai que cria um filho semelhante,
crias um homem para um futuro certo:
imundo, sujo, impuro, errante...
Ah! mulher rica, mãe de aspereza,
a soberba de tua cria
é dos pobres a tristeza...
Ah, mulher rica, vil burguesa,
geras em teu pelego ventre um monstro algoz, infecundo...

Classe média brasileira
- a mais nojenta do mundo!

Poesia para um grande amigo




Espero que goste, mestre
do estilo campestre que por ora vou lhe ofertar...
Poesia metafórica, com lírios e rosas
a fim de nossa amizade muito mais alegrar...

Nesta porta final que agora se fecha
deixamos a brecha de uma grande amizade...
mostramos ao mundo o lírio fecundo,
espaço nada profundo apesar das idades...

E num poema sucinto,
no qual eu não minto em dizer a verdade,
digo que o mestre será sempre bem-vindo,
para tomarmos um tinto e matar as saudades...

Fique com Deus, meu caro amigo,
hoje é minha vez de partir...
Agradeço as ajudas que me deste
e a tua poesia, que hoje também me veste

mas hoje eu preciso ir embora,
hoje eu preciso me ir.




Para o amigo, professor doutor e mestre, Roberto.
Por toda a coragem que me deste em acreditar nos meus versos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Guerra Fria


-Não pensei que o camarada,
preferível a companheiro,
fosse também um poeta,
um vagaba poeteiro!

Um prazer imenso saber
que tu gozas do bem da Poesia...
Encheu-me o peito de inefável ternura.
Encheu-me a alma de alegria.

-Pois que fique sabendo camarada,
Que a grande arte não só nos une,
Mas Também nos torna imune,
Do que encontramos nessa estrada!

Se seu prazer foi de saber
A mim só fez animação
Encheu-me os ânimos a escrever,
Encheu-me as mãos de inspiração!


Em parceria com o caro Igor Henriques

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um poema é um rascunho do mundo


O poeta é o lápis do mundo.
A Poesia está no ar, está na pele, no cabelo
O amor está na atmosfera dos homens e seus delírios.
A dor está na mente dos homens e nas suas verdades...

Por isso digo com total propriedade que
o poeta é o lápis do mundo.
O poeta diz do vento, da luz, dos espinhos da dor.
Diz da inteligência e das lutas de classe,
diz dos velhos e meninos, diz dos vagabundos...
Um poeta fala sobre o que se quer ouvir...

Por isso louvo e canto os poetas
Que amam na alegria de chegar
e ainda mais na tristeza de partir...


Para os deuses que nos circundam