segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Poema para o ser que me deixa feliz



Que poder é este que possues sobre mim?
Que poder é este que tens sobre mim
e que me deixa tonto
a ser levado pelo desembaraçar de tuas mãos,
pelo navegar de tuas embarcações?

Que feitiço é este com que me deténs
e me aprisionas, e me encarceras
nos alçapões vermelhos de teu peito alvo?

Que prisão é esta
que me enche em graça,
que me salienta
e me arrebenta de prazeres vis?
Que tortura é esta,
quando me chicoteias com silêncio,
com frieza, com prazer?

Que espécime és tu, espírito superior
anjo decaído,
que transveste despido
e veste-me o corpo de nu?

Pois que singularidade és tu,
com graça viva e perversidade,
com cabelos negros e flores-de-lis,
que triste me deixas a morrer no teu corpo em vontades
e que,
mesmo na instância alta de virilidade,
me canta e me encantas
em teus sonhos vívidos e febris...

Que ser é este, Senhor?
Que ser é este
que pelo simples ato de voar pelas calçadas
me fita e me pára
a abrir-me nos lábios o sorriso feliz?

Me diz, Senhor, me diz
que ser é este que me deixa feliz...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Manada de acéfalos



Não, não, não...
Não dê atenção aos espiritos mais levianos...
Não dê suas mãos aos ouriços de espinhos venenosos,
aos seres do charco, trevosos,
que teimam em nos fazer chorar..

Não se importe,
não chore, não se incomode...
O que é baixo, amor meu,
vem do obscuro, não vem de Deus.

Quando uma Treva vê a outra em Claridade
lança mazelas e futilidades ao ar...
É cria dos deuses infernais,
projeto novo de Escuridão.
Pobre criatura,
esquece-se que, em patéticos poemas apaixonados,
as palavras que tornam melhor o palavreado
são as que lhe faltam: amor e dedicação.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Poema das horas de ausência



Compus um canto de despedida.
Amor de um lado, Amor de outro...
Compus um canto, um lamento,
plantei resignação no vento
como quem planta carvalhos na areia.

Compus um deleite aos deuses,
ao cupido e suas flechas de veneno.
Amor de um lado, Amor de outro...
A saudade é a bala certeira.

Compus um soneto dentro de mim.
Compus uma letra, uma melodia, uma entoada
pra ver se lavava minha alma penada,
sem penas, do cansaço da Solidão.

Compus o que deveria ser composto:
o presente, fruto duro do passado.
O futuro, fruto do duro presente.

E colhi, depois das noites mal dormidas
as carícias de tua volta secular,
a proteção de tuas pernas lambidas,
e teus seios de neve de novo a me guardar...

sábado, 22 de outubro de 2011

Certo que sim, não discuta

Não adianta o Sol nascer da Treva
porque, de fato, isto é teoria irrealizável...
Do escuro só nasce o escuro.
Do claro só nasce o claro.

É por isto e mais que digo
sempre aos teus ouvidos:

és a melhor parte de meu dia.
Aliás, és o meu dia.
De resto, quando não estás,
é na escuridão que me perco
e me afogo de vícios de ópio e rapé.

E não adianta dizerem que não és
minha Claridade.
Porque é, disso eu sei. Você é.


Em tempos de vestibular, na prova do Enem.

domingo, 9 de outubro de 2011

Cigarro e terraço


Vontade grande de ter um terraço
um delírio
uma cerveja e cigarros por toda a noite.
Nada de barulho, música. Nada, só meus cigarros.

Minha menina me faz falta demais.
Aí escrevo qualquer merda
e creio estar poeticamente perdoado...

A vida é assim mesmo, acho.
Cheio de terraços
ou sem nenhum deles...

Eu não tenho o meu
você não tem o seu... ou tem?

Se tiver, me chame.
Quem sabe assim cultivo com alguém
essa sensação fodida.
Clarice saiu hoje - tô numa tristeza sem fim da vida...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pseudônimo



Peguei-te na hora certa,
na minha falta de presença...
Nua, branca, leite derramado em nossa cama.
O seio que aos deleites de outro ofertara.

Aquele corpo de carícias
onde enrolava-me em volúpias e frenesis,
hoje o vi com outro corpo,
em outras barbas, em outras pernas vis...

Eu imploro que te soltes, meu amor,
que te soltes dos braços compridos da perversidade.
Acabo de chegar de viagem, me chama que vou.
Diga que me ama, que só eu deito em tua cama, e me chama,
me chama depressa pro teu colo, que vou.

Pois quem diria, para minha felicidade,
que este homem de barba espessa
e rugas de muita idade,
se chamaria, talvez com ironia, Senhor Saudade?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu, fazedor de Poesia

Há dias em que minha massa encefálica derrapa na ordem da escrita das palavras.
Inspiração e fracasso. Inspiração e inconformismo. Inspiração e incapacidade.
Meus músculos travam, minha mão enrijece.
Deve ser coisa de menino novo, aventureiro na arte que é quase sempre dos mais experientes. Poesia surge, quer queira ou não. Expressões bonitas vêm, esteja você pronto ou não.
E o metido a poeta, que por não andar com um pedaço de papel e uma caneta sempre nos bolsos largos que todo sábio possui, por isso mesmo assim não pode ser chamado. Eu, fazedor de poemas, necessito sempre, sempre, da mão amiga da Poesia. E Ela, quase sempre, quase sempre, me surge como nesta escrita aqui abaixo mostrada.

Chuva de poeira que a Claridade alumia




Ando caindo feito chuva,
que cai em pingos e nada mais..
Que cai qual o tempo, qual as árvores
que passa como o rio, como os carnavais.

E meu vapor de água em nuvem de poeira,
que no céu chuvoso de ternura se enlameia,
me corre furtivo a escorregar por tuas beiras,
a deslizar feliz na busca por teu cais.