domingo, 21 de abril de 2013

Brancas crianças

Vejo crianças à minha frente.
E muitos são os que a elas olham.

Brancas e loiras, e indecentes
pela inocência que trazem nas mãos sujas de terra.
Há crianças na minha frente. E eu detesto todas elas.

Sinto inveja daquilo que eu quis ser, e que não fui.

Minhas mãos agora estão sujas de tinta.
Eu só escrevo e finjo que brinco na terra.

Há crianças na minha frente. Eu detesto todas elas.


Em casa de Rui Barbosa, Botafogo.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Expurgo

Procurar o sofrimento é procurar se livrar dele. Não se elimina a praga que não se conhece o nome. Se não há alegria, que se sofra bem sofrido. Expurga-se o mal da dor ao se sofrer em demasia... É a Tragédia da alma. O necessário. Sofrer é da consciência humana a essência, o primordial para a Comédia das paixões...

domingo, 14 de abril de 2013

Amo teu novo amor II

Amo teu novo amor.
Amo-o por ser a minha potencialidade de amar.
Amo-o por lhe fazer o que eu quis.
Amo-o por ser aquilo que tu amas, e não sou.

Amo teu novo amor
com toda a dor que posso ter.
Amo-o por deixar-lhe bem o seu abraço.
Amo-o pelo beijo que lhe dá.
Amo-o por lhe tornar aquilo que tu sempre quiseste ser.

Amo-o, infinitamente.
Amo-o em manifesto à minha impotência.


Para Moça Branca (Rio, 14/04/13)

Parir

Estou grávido de mim.

Engravidei-me de minha alma.
Do que creio
e sinto.

Estou grávido de mim
e me sou todo eu mesmo.
Meu filho sou eu.

Parir deve ser morrer.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tu e teus homens inúteis

Não te escreverão poemas.
Não te enviarão cartas de amor.
Esses homens como os teus
são da carne comum do dia.

Não há cafés e livros que se cheiram
com estes homens inúteis com quem tu andas.
Não há cheiro bom de coisa velha.
O cheiro velho dos teus homens não é de alfazema,
nem de lavanda.
É de mofo.

O teu paladar não sentirá as
estrelas do céu da boca do poeta.
E constelações não haverá
no céu de tua treva.

Não te escreverão poemas,
porque estes teus homens não falam pelas palavras.
Estes teus homens gritam pela pele,
e somente pela pele,
o que tentam sentir mas não sentem.

Não te escreverão poemas
porque teus homens inúteis não te veem pelos olhos.
Teus homens inúteis e vazios de si
enxergam apenas o que a luz faz do mundo: reflexo.

Eu te escreverei poemas.
Não os entregarei, pois que tu quiseste ser livre
e todo poema escrito é prisão de coisas sentidas.
Eu te escreverei poemas guardados em mim,
escritos em minha alma
com a pena da asa da tua liberdade.


Para Moça Branca

Farol


Quando tu surges nas madrugadas sombrias,
às horas da desventura de uma palavra incerta,
contigo trazes  a quentura necessária
ao descanso e ao delírio do poeta...

Não me vens em carne, eu estou certo.
Mas pra mim é como se assim tu te apresentasses.
De ti eu recordo e me desperto
pra do teu breve momento galgar eternidades...

Iluminas tudo aqui com a imensidão
de uma tempestade em voz de calmaria...
E trazes chuva que amedronta e admira
a pela dura e fria dos desamores...

Tu és os novos sabores, o Sol do dia que as trevas arrebenta...

És reflexo da luz que na água incide,
o arco-íris que o bom Deus inventa!


Para Moça Branca

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Desprendi-me em ti

Largo meus vícios.
Me troco, visto outra roupa.
Corto até meu cabelo,
tiro os pêlos da cara.

Quero mãos dadas
e olhos de olhar estrelas.
Mãos-asas, pra voarmos até o infinito do amor.

Aonde é que você se escondeu?
Espero que não seja nas asas de um dragão.
Eles soltam fogo pela boca, e de enxofre são perfumados.

Quero mãos dadas.
E teus olhos de olhar estrelas.
Minhas asas estão abertas,
pus um perfume novo,
com cheiro de alecrim.

Eu largo tudo e me lavo.
Largo o fumo, viro novo homem.
E paro hoje mesmo de beber.
Se a rima é forte, o amor é mais.
Venha, que eu largo de tudo,
largo o meu mundo sem olhar pra trás...


Para Moça Branca