sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Horas sem luz

‎Que a felicidade não é deste mundo bem o sei.
Mas de que me vale o sofrimento hodierno,
se a gradação me dita a ida ao tal Rei
ou o declínio absoluto ao Inferno?

A garantia da felicidade futura
não me é dada por nenhum argumento.
Por isso tanto me faz um dia de candura
quanto um dia cavernoso e sangrento.

E haja esta ou outras mil teorias,
que me tirem o Inferno e me ponham o Astral.
Essa crença vã nas alegrias
ainda me será só prova de uma loucura geral.

domingo, 26 de agosto de 2012

Aos descrentes

Entre, descrença profana,
e faça tua cama bem aqui,
no peito meu.

À partir de hoje sou ateu,
sou um crente na descrença,
exaltador de desavenças
no marasmo e com os asnos desta vida.

O meu ideal me traiu,
afogou-me de sua ausência,
expurgou-me de toda a essência,
daquilo a que eu tanto era leal.

E não sabe do mal
que todo este abandono me implantou.

Hoje, se o inimigo me oferece
apenas um sorriso de sarcasmo,
eu largo todo o meu nada, jogo meus valores na privada,
e vou.

EU VENDI MINHA ALMA

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Caneta sem tinta

Não há imagem, não há ruído, não há poema
que nos transcreva o pesar de um grande homem!
A sua dor é bem maior, e o consome
pelas beiradas do corpo físico e também mental!

Abaixo fotógrafos, músicos e poetas,
seres de muita luz e pouco Ser!
Abaixo pela verdade,
pela ousadia que julgam em si reter!

Não há um nada, um "Quê" sequer,
que nos diga da aflição humana!
O conhecimento de nada nos vale,
embora nos resvale à sua vil choupana!

E este pesar infinito, dor bonita da Poesia,
decerto nunca terá fim!
E seja no rabisco de um livro, ou em bela fotografia,
a dor ou a alegria pinta-nos todos de seu carmesim!

E aqui está a prova, insossa e também concreta,
de que a vida do poeta é escrita em linhas tortas...
Se a parede é a Poesia flutuante,
a maçaneta é a chave delirante
para que se abra a porta!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Primavera Carioca




Vos anuncio a Primavera Carioca!
A eterna noite escura e espessa
enfim chegou ao fim...

Não mais a bruma intoxicante das licitações obscuras!
Não mais o balcão de negócios com aquilo que é do povo!
Não mais viagens com o dinheiro (nosso) da prefeitura!
A Primavera anuncia com alegria o ardor do novo!

Sejamos, pois, agora, abdicados jardineiros!
Tenhamos mais amor e mais determinação.
Lembremo-nos que o que nos move não é o dinheiro:
o que nos move é o pulsar de nosso coração!

As flores que chegam correndo pelo céu
necessitam, e muito, de nossa ousadia!
Retiremos de nossas vistas o véu,
e plantemos, felizes, dia a dia!

Saiamos de nossas casas, saiamos do papel,
e deixemos esse legado para toda geração!
A Primavera anunciada já aponta triunfante,
lançando amarelas labaredas de emoção!


Dedicado aos camaradas crentes na mudança!
E a Marcelo Freixo, futuro prefeito do Rio de Janeiro! 50!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Testamento




Deixo todas as minhas teses até aqui estabelecidas.
Deixo todas as concepções de mundo que já me ofereceram.
Deixo todo e qualquer tipo de construção.

Deixo tudo pro mundo.

Agarro-me à Filosofia.
Ao estrago que ela proporciona, e à felicidade consequente.

Cansei de sorrisos vazios.
Interessa-me preencher o meu.
E é na desconstrução total de mim mesmo
que a caminhada -se é que agora posso denominar caminhada! - se inicia.

Adeus, eu vou morar em outro mundo!

domingo, 12 de agosto de 2012

Cataclismo



Jogo fora meu vinho
só pra te ter mais consciente de meu pecado.
Apago meu cigarro
só pra te ver acordar em mim por mais 30 anos.

Há um Sol que teima em nascer na minha escuridão.
Não gosto disto e gosto.
É uma profusão...
Pareço um exército que canta antes da batalha.

Vontade de matar - Vontade de morrer
Uma confusão infinda.

Só me resta o poema barato,
sem custo, a servir pra porra alguma.
Nem aliviar a tensão.

Talvez a vida deva ser assim, por si só.
Talvez a felicidade não exista.
Talvez o Amor não exista,
seja apenas um nó que atrapalha o caminho da perversão.

Talvez eu esteja muito louco,
muito bêbado, lúcido demais.
Talvez o Belo seja a guerra interna, não a Paz...

Quem vai impedir de ser
aquilo que já é? Deixa fenecer!
Afinal nada fenece.
O salário da Existência é a morte que adormece.
O salário da Morte é a existência que perece.

No mais, só mais um adendo:
eu gosto do fundo, do sórdido, imundo.
Da paixão que me leva ao inferno, do submundo - Detesto o raso.

Como o poeta já disse, confirmo: eu gosto é do estrago.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Esperança



Espero pelo dia em que as ondas não mais serão
produto dos ventos contrários.
Espero pelo dia em que os velhos serão
mais vivos e menos reacionários.

Espero pelo dia em que os músicos voltarão
a falar do amor.

Espero pelo dia em que as pessoas serão
menos rasas.
E também pelo dia em que nossas almas serão
casas,
ninhos fecundos da Prosa e da Poesia.

Mas também espero pela noite, que me traz
a Arte.
E pelo Todo,
e todas as suas Partes.

Espero pela dor boa,
que traz Alegria.
E pela realidade impressa
no meu livro de fantasia.


Solidão vespertina,
tão cheia de pássaros audazes,
eu gosto tanto dessa tua rima,
desse encanto todo que tu mesma fazes!

És o rebuliço, ouriço louco de minh'alma,
o psicotrópico mais forte,
a agitação de morte que mais me acalma!

E como eu gosto desta turbulência,
desta torpe essência, minha grande amiga!

Pois é em ti que minha dor se guarda,
que ela espera, que ela se lava.
Pois é em ti que minha dor se abriga!


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Cristaliza e volta (Samba pra Morena)



Nos tempos em que eu era casado,
tu me eras só uma quimera.
Transpassava-me e eu, adoidado,
pensava "quem dera, meu Deus, ai quem dera"!

Não te importavas os laços que eu
junto à minha esposa tinha.
Quando ela ia à feira ou à rua,
tu não hesitavas - e vinhas!

E hoje só porque estou só,
tu não me queres nem mais por perto.
Mas eu dou um jeito, te laço e dou nó.
Você esqueceu que eu sou malandro esperto.

Eu aproveito é da tua desdita,
e te pego quando mais precisares.
Aí, meu compadre, te enrolo na fita,
pra nunca na vida mais tu me soltares...

És tentação, eu sei!
Mas considero muito mais pecado
tu zombares do meu coração,
trocando meu samba por fado.


Para a Morena do Jongo

sábado, 4 de agosto de 2012

Ao diabo



Ao diabo as alegrias,
as fantasias do coração.
Ao diabo as surpresas desejáveis,
as homilias, o pão...

Ao diabo toda festa,
toda forma de sorriso.
Ao diabo a libido
da pobreza e ostentação....

Ao diabo a menininha
que não quer tornar mulher.
Ao diabo o dia "belo",
recheado desse Sol.

Ao diabo o céu claro,
todo limpo, sem o cinza..
Ao diabo as flores todas,
as cores todas do arrebol...

Ao diabo o meu sorriso,
empecilho da Poesia...
Ao diabo o diabo,
e as luzes claras do dia.

Porque eu sou filho das Trevas.
Das negras e sórdidas Trevas.
E assim nasce meu poema,
e assim brota o Algo do Nada.

Que eu sou o traço do raio que cai,
a água que do chão se alevanta,
a Bela Tristeza que canta,
a fome que não é saciada...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A.migos P.ara S.empre


Irmã, sou um mau poeta.
Mas mesmo assim teimo em arriscar-me na escrita!
E hoje estou aqui, extasiado,
falando de nossa amizade tão bonita!

São tantos os anos
e os fatos concretizados,
que nossa amizade é prova concreta,
é Amor materializado!

Obrigado por tudo,
por estarmos perto um do outro mesmo longe,
por estarmos aonde o amor finda (no infinito)!

Obrigado por tudo de tão bonito
que tu representas na minha vida.
Não há poema, poesia,
que descreva essa alegria que sinto no peito.

E agradeço aos céus por sermos eleitos
à comunhão desta bela irmandade!
Que sejamos eternamente unidos,
como amigos, cúmplices dessa louca vida, como irmãos!

Pois que somos o canto da sereia,
a claridade da lua cheia,
o pulsar bravo do coração!

Te amo!


Para Rebecca Bicego (A.P.S.)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Epifania do monitor

Olha só esta maravilha!
Uma tela brilhante na minha frente!
Eu clico aqui, aparece ali! Na minha frente!
Curioso! Curioso! que objeto danado!

Isto não é da minha época, certamente!
No meu tempo as letras eram mais palpáveis,
eu podia borrá-las com a minha saliva logo após elas terem sido escritas!
Curioso, repito! Que maravilha!

E é colorido até.
Não sei se todas as telas são assim,
mas esta tela aqui na minha frente é colorida!
Ha! que estranho, tenho até vontade de dançar!

Mas também não importa...
Tudo sempre tanto faz!
Mas que é curioso isso tudo, é!
Que tela interessante!

Que Coisa interessante!
Sei que estou ficando enfadonho,
mas não importa!

Esta tela é muito interessante!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Revele

Vocês estão aí. Os Normais.
A tudo assistem.
A tudo aceitam.
A tudo creem conhecer.
Hum, pseudo-esmiuçadores.

E aqui estou eu, louco.
Aqui, tentando escrever um poema. Eu-louco.
Só um homem-louco tenta escrever poemas hoje em dia.

Quando o nascer do Sol
é apenas o nascer do Sol
não há razão para se escrever um poema.

Quando o rebuliço da paixão
é apenas um aperto no peito
não há justificativa para se escrever um poema.

Quando o amor não é Amor
não há motivos para se escrever um poema...

Os poetas deveriam ser cultuados.
Cânticos de adoração lhes deveriam ser entoados.

Mas não! Não me cantem louvores.
Pelo menos não agora.

Por vezes eu ainda acordo
vendo o nascer do Sol
apenas como o nascer do Sol.