segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Antes da tosse, o nó



Tenho palavras presas na garganta.
Letras confusas, misturadas.
Não sei dizê-las...

Tenho palavras presas na garganta.
Letras nas pontas dos dedos.
Mas não sei... não sei.

Tenho letras na garganta.
Palavras na garganta, nos dedos.
Não sei querê-las, não sei.

Tenho sentimento em cada ponto do meu corpo,
e é nas palavras que a Poesia faz a festa.
Viva a dor de não saber usar o que se sente...
Viva a dor de ser um poeta com medo, dissidente.
Viva a dor de ser da escrita, da própria dor...
Viva a dor do fogo da angústia, do furor.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um Haicai para o mestre




Matemático
Só assim eu o julgava
Mas vi que me enganava!

O mestre ser poeta
Não é cascata!
Vai ver que a Poesia é também exata!

Que alegria
Foi saber desta surpresa!
O mestre escreve que é uma beleza!

Mas já por ora
Peço perdão!
Sei fazer Haicai não!

E vou-me, mestre
Um grande abraço
Feliz pela Poesia correr em teu braço!



Para o mestre Cristiano!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Amor de pseudo-poeta



Te amo por todos os dias
Pelos dias que foram, pelos que são
Pelos que ainda estão por vir...

Te amo quando aqui estás
e quando vais, sorridente,
procurar a vida por cantos que não estou...

Te amo pelas flores que não dou
e pela timidez de teus olhos brandos.
Te amo pelo sim e pelo quando,
quando exito por não te ter a me guiar.

Te amo aqui em minha cidade,
e nas serras em que ando...
Te amo pelos meandros
que me levam sempre para teu amor...

Te amo pelo que não sei
Por querer-te mais que tudo nesta vida
Por seres a claridade de minha noite
Por seres teu próprio deleite, e eu complemento.

Te amo por este momento,
em que estás na tua cama, e longe eu estou.
Te amo porque sei que se tu me chamares,
eu largo toda a poesia, largos todos os poemas, e vou...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fotografia



És filha de deuses, meu azul celeste.
Fulguras meu peito em tons multicolores.
És um parto sem dores,
és o inverno, o agreste..

Formosa mulher, de pele alva que tanto me encanta,
não sabes do amor que sinto por ti!
Não sabes de todo o amor que o poeta canta,
nem que dos males que espanta por simplesmente existir!

Doce mel de minha boca seca, açúcar de meu peito muito amargo...
Carregas em teu coração o fumo
de um fogo limpo que feliz eu trago!

Ser individual e puro, tu que de mim arrancaste o obscuro
não sabes da alegria de ter por perto a tua luz...
Deste-me claridade divina, e hoje, na qualidade de menina, és a mulher que me conduz!

domingo, 18 de dezembro de 2011

A prostituta do trem



Meretriz menina,
te vi hoje no trem...
Cansada, franzina,
dona de uma tristeza sem igual...

Por Deus, nosso Pai,
que dor estava em teus caídos olhos!
Alegria não mais, eu sei,
só a vontade de ser o que hoje não és.

Meretriz menina,
que espécie de lugar te abriga,
que cabarés compram teu corpo
de virgem, de pureza, de inocência, de infância?

Por Deus, nosso Pai,
que pescoço que não se ergue!
Quero saber dos vermes que lhe encostam,
eu não consigo crer...

Meretriz menina, segue teu caminho,
salto eu na próxima estação.
Foi desconfortável ver-te hoje,
tão fora de si.
Foi desconfortável saber que fui amar uma mulher de verdade.
Que precisei ir embora. Que precisei saltar,
e te deixar ali.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Carta aos pais neoliberais


Horizonte de utopia nesta terra se estilhaça:
não há bem o que dinheiro produza
que pague as vidas que traça!

E tu, da média classe brasileira,
classe mérdia e trambiqueira,
deverias juntar-te aos pobres, tua classe verdadeira!

Mas por teres já um carro
e teus móveis por prestação,
pensas estar num nível elevado,
pensas ter um importado enquanto dormes no chão!

Ah! homem-pai que cria um filho semelhante,
crias um homem para um futuro certo:
imundo, sujo, impuro, errante...
Ah! mulher rica, mãe de aspereza,
a soberba de tua cria
é dos pobres a tristeza...
Ah, mulher rica, vil burguesa,
geras em teu pelego ventre um monstro algoz, infecundo...

Classe média brasileira
- a mais nojenta do mundo!

Poesia para um grande amigo




Espero que goste, mestre
do estilo campestre que por ora vou lhe ofertar...
Poesia metafórica, com lírios e rosas
a fim de nossa amizade muito mais alegrar...

Nesta porta final que agora se fecha
deixamos a brecha de uma grande amizade...
mostramos ao mundo o lírio fecundo,
espaço nada profundo apesar das idades...

E num poema sucinto,
no qual eu não minto em dizer a verdade,
digo que o mestre será sempre bem-vindo,
para tomarmos um tinto e matar as saudades...

Fique com Deus, meu caro amigo,
hoje é minha vez de partir...
Agradeço as ajudas que me deste
e a tua poesia, que hoje também me veste

mas hoje eu preciso ir embora,
hoje eu preciso me ir.




Para o amigo, professor doutor e mestre, Roberto.
Por toda a coragem que me deste em acreditar nos meus versos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Guerra Fria


-Não pensei que o camarada,
preferível a companheiro,
fosse também um poeta,
um vagaba poeteiro!

Um prazer imenso saber
que tu gozas do bem da Poesia...
Encheu-me o peito de inefável ternura.
Encheu-me a alma de alegria.

-Pois que fique sabendo camarada,
Que a grande arte não só nos une,
Mas Também nos torna imune,
Do que encontramos nessa estrada!

Se seu prazer foi de saber
A mim só fez animação
Encheu-me os ânimos a escrever,
Encheu-me as mãos de inspiração!


Em parceria com o caro Igor Henriques

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um poema é um rascunho do mundo


O poeta é o lápis do mundo.
A Poesia está no ar, está na pele, no cabelo
O amor está na atmosfera dos homens e seus delírios.
A dor está na mente dos homens e nas suas verdades...

Por isso digo com total propriedade que
o poeta é o lápis do mundo.
O poeta diz do vento, da luz, dos espinhos da dor.
Diz da inteligência e das lutas de classe,
diz dos velhos e meninos, diz dos vagabundos...
Um poeta fala sobre o que se quer ouvir...

Por isso louvo e canto os poetas
Que amam na alegria de chegar
e ainda mais na tristeza de partir...


Para os deuses que nos circundam

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Saravá, Umbanda querida



Nestes versos pequeninos
sob a forma de mensagem
venho aos orixás divinos
render a minha homenagem...

Pois nos versos mais bonitos
o que reina é o amor.
Umbanda, Umbanda querida
estou contigo aonde for...

[Sem-Título]

Faltam
Comparecem
Que seres são esses que nos aborrecem?
Poesia, Poesia,
de marés e tufões
Por que leva os homens e seus corações?

Zona Norte



Quem sabe um desconhecido
não se apresenta
e me mostra os segredos das
pedras portuguesas
que me salientam os pés?

Talvez um estranho se apresente
e finja ser amigo de longa data
e me fale da família, da igreja
e me faça sorrir na espera da Claridade.

Mas eu duvido, e duvido muito
que as estranhezas daqui se manifestem.
Eu estampo no rosto o asco
e o vômito pelo poder que elas
supostamente
exercem.


Numa praça da Tijuca, a espera de Clarice.

Santo Capetalismo



É o que o Capitalismo fez do homem:
carne. Carne móvel.
Carne fria sem textura, sem tempero
sem estria...

É o que o Capitalismo faz do homem:
carne crua sem alegria.
Máquina cinza sem amor no peito,
sem peito, cérebro ou companhia...

É o que o Capitalismo fará do homem:
monte de merda fria, móvel, sem alegria.
Estrume sem dormir em paz à noite,
coiotes-monstros da lua artificial da noite,
robôs sem horizontes de utopia...

E tem mais do que o Capitalismo fará um dia:
pegará cada parte do seu corpo,
da sua unha ao seu pescoço,
e te venderá a quilos na bacia.

domingo, 20 de novembro de 2011

Eu prefiro não crer no inferno


Terá um dia em que não ouvirei mais pássaros na minha janela,
não sentirei a brisa inebriante do pão quente que sai do forno,
nem ouvirei o tilintar das guirlandas no Natal..

Terá um dia que não mais seguirei teus passos,
e não será com a desculpa de que agora nós andamos juntos...
Terá um dia que o sonho acabará,
e tudo terminará, será cada um pra um canto...

Terá um dia, mas se só há uma vida,
em que nos separaremos para sempre...
Tu no céu, eu nas braseiras.
Viverás em paz como fruto da tua fé correta.
E eu viverei sob as bordoadas das nossas lembranças,
sob as labaredas do inferno da saudade...

Terá um dia, maldito dia pela unicidade,
que eu só viverei na Treva
sem minha Claridade.


Para nosso futuro segundo a unicidade da existência

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Poema para o ser que me deixa feliz



Que poder é este que possues sobre mim?
Que poder é este que tens sobre mim
e que me deixa tonto
a ser levado pelo desembaraçar de tuas mãos,
pelo navegar de tuas embarcações?

Que feitiço é este com que me deténs
e me aprisionas, e me encarceras
nos alçapões vermelhos de teu peito alvo?

Que prisão é esta
que me enche em graça,
que me salienta
e me arrebenta de prazeres vis?
Que tortura é esta,
quando me chicoteias com silêncio,
com frieza, com prazer?

Que espécime és tu, espírito superior
anjo decaído,
que transveste despido
e veste-me o corpo de nu?

Pois que singularidade és tu,
com graça viva e perversidade,
com cabelos negros e flores-de-lis,
que triste me deixas a morrer no teu corpo em vontades
e que,
mesmo na instância alta de virilidade,
me canta e me encantas
em teus sonhos vívidos e febris...

Que ser é este, Senhor?
Que ser é este
que pelo simples ato de voar pelas calçadas
me fita e me pára
a abrir-me nos lábios o sorriso feliz?

Me diz, Senhor, me diz
que ser é este que me deixa feliz...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Manada de acéfalos



Não, não, não...
Não dê atenção aos espiritos mais levianos...
Não dê suas mãos aos ouriços de espinhos venenosos,
aos seres do charco, trevosos,
que teimam em nos fazer chorar..

Não se importe,
não chore, não se incomode...
O que é baixo, amor meu,
vem do obscuro, não vem de Deus.

Quando uma Treva vê a outra em Claridade
lança mazelas e futilidades ao ar...
É cria dos deuses infernais,
projeto novo de Escuridão.
Pobre criatura,
esquece-se que, em patéticos poemas apaixonados,
as palavras que tornam melhor o palavreado
são as que lhe faltam: amor e dedicação.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Poema das horas de ausência



Compus um canto de despedida.
Amor de um lado, Amor de outro...
Compus um canto, um lamento,
plantei resignação no vento
como quem planta carvalhos na areia.

Compus um deleite aos deuses,
ao cupido e suas flechas de veneno.
Amor de um lado, Amor de outro...
A saudade é a bala certeira.

Compus um soneto dentro de mim.
Compus uma letra, uma melodia, uma entoada
pra ver se lavava minha alma penada,
sem penas, do cansaço da Solidão.

Compus o que deveria ser composto:
o presente, fruto duro do passado.
O futuro, fruto do duro presente.

E colhi, depois das noites mal dormidas
as carícias de tua volta secular,
a proteção de tuas pernas lambidas,
e teus seios de neve de novo a me guardar...

sábado, 22 de outubro de 2011

Certo que sim, não discuta

Não adianta o Sol nascer da Treva
porque, de fato, isto é teoria irrealizável...
Do escuro só nasce o escuro.
Do claro só nasce o claro.

É por isto e mais que digo
sempre aos teus ouvidos:

és a melhor parte de meu dia.
Aliás, és o meu dia.
De resto, quando não estás,
é na escuridão que me perco
e me afogo de vícios de ópio e rapé.

E não adianta dizerem que não és
minha Claridade.
Porque é, disso eu sei. Você é.


Em tempos de vestibular, na prova do Enem.

domingo, 9 de outubro de 2011

Cigarro e terraço


Vontade grande de ter um terraço
um delírio
uma cerveja e cigarros por toda a noite.
Nada de barulho, música. Nada, só meus cigarros.

Minha menina me faz falta demais.
Aí escrevo qualquer merda
e creio estar poeticamente perdoado...

A vida é assim mesmo, acho.
Cheio de terraços
ou sem nenhum deles...

Eu não tenho o meu
você não tem o seu... ou tem?

Se tiver, me chame.
Quem sabe assim cultivo com alguém
essa sensação fodida.
Clarice saiu hoje - tô numa tristeza sem fim da vida...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pseudônimo



Peguei-te na hora certa,
na minha falta de presença...
Nua, branca, leite derramado em nossa cama.
O seio que aos deleites de outro ofertara.

Aquele corpo de carícias
onde enrolava-me em volúpias e frenesis,
hoje o vi com outro corpo,
em outras barbas, em outras pernas vis...

Eu imploro que te soltes, meu amor,
que te soltes dos braços compridos da perversidade.
Acabo de chegar de viagem, me chama que vou.
Diga que me ama, que só eu deito em tua cama, e me chama,
me chama depressa pro teu colo, que vou.

Pois quem diria, para minha felicidade,
que este homem de barba espessa
e rugas de muita idade,
se chamaria, talvez com ironia, Senhor Saudade?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu, fazedor de Poesia

Há dias em que minha massa encefálica derrapa na ordem da escrita das palavras.
Inspiração e fracasso. Inspiração e inconformismo. Inspiração e incapacidade.
Meus músculos travam, minha mão enrijece.
Deve ser coisa de menino novo, aventureiro na arte que é quase sempre dos mais experientes. Poesia surge, quer queira ou não. Expressões bonitas vêm, esteja você pronto ou não.
E o metido a poeta, que por não andar com um pedaço de papel e uma caneta sempre nos bolsos largos que todo sábio possui, por isso mesmo assim não pode ser chamado. Eu, fazedor de poemas, necessito sempre, sempre, da mão amiga da Poesia. E Ela, quase sempre, quase sempre, me surge como nesta escrita aqui abaixo mostrada.

Chuva de poeira que a Claridade alumia




Ando caindo feito chuva,
que cai em pingos e nada mais..
Que cai qual o tempo, qual as árvores
que passa como o rio, como os carnavais.

E meu vapor de água em nuvem de poeira,
que no céu chuvoso de ternura se enlameia,
me corre furtivo a escorregar por tuas beiras,
a deslizar feliz na busca por teu cais.

domingo, 25 de setembro de 2011

Conjugação



Só ela tem o poder de encher-me daquilo que sempre sonhei.
Só ela tem o poder de fazer-me um menino novamente.
Só ela me faz achar graça nos sóis dos poentes
e a gostar deveras dos renomados poetas...
Só ela me faz andar por sinuosas linhas retas,
e a correr nos trilhos da ferrovia extensa de um olhar...

Só ela me fez escritor das ternuras do Amor.
Só ela é a conjugação do meu verbo de amar...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

[Sem-título]

Antes do menino ser poeta,
ainda pelo trocar de suas fraldas,
seu choro já mostra as dores futuras,
seu peito já pulsa o pesar de amor...

Antes do menino ser poeta,
quando rabisca a folha branca e diz ser poesia,
mal sabe ele da alegria em ter poucas chagas,
em não sofrer tantas mágoas dia-a-dia.

Porque quando o menino,
que antes não era poeta,
vê-se com o coração extravasado,
chora pelo início voluntário
na arte de amar um simples papel rabiscado.

sábado, 17 de setembro de 2011

Risada



Macacos pulam
Homens correm...
Velhos tremulam
mancebos morrem...

Eu sou poeta,
fazedor de poesia,
eu não pulo, eu não corro,
eu só vivo em fantasia...

E se vieres a dizer
que ainda sou jovem,
e que não devo beber da Terra a orbe,
eu digo: vá te foder, impropério,
de nada tu sabes.
Vá sentar no colo onde o fogo do capeta exorta,
onde o tridente do diabo corta
e ardes.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poesia: arma de amor



Eu quero uma jaqueira no meu quintal.
Não sei porquê, mas esta vontade me toma o peito por ora.

Jaqueira frondosa, com belos frutos
rijos ou bem molenguinhos...

Jaqueira grande, de belo porte,
que me faça viajar para longe das buzinas
da corrupção,
do tiroteio das iniquidades.
Uma jaqueira que me deixe deitado sobre suas raízes
tão deliberadamente como nos seios de minha amada...

Eu preciso de uma jaqueira
e um pouco mais de paciência...
Mas paciência longa,
de quem espera da sociedade muito mais paixão.

Talvez assim eu sacie logo minha fome:
vendo nas ruas meninos que viram homens,
vendo protestos se darem Revolução...


Para Pedro, por nossas lucubrações noturnas

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ofertório



Tudo que escrevi é teu...
Todos os hinos, todos os cânticos.
Todos os louvores aos homens, a Deus.
É tudo teu, é tudo teu...

Fiz letras com teu rosto.
Fiz poemas com nosso suor.
Revoluções eu armei pensando somente no teu sorriso...
E você, que desperta em nosso ninho,
que se enrola em meus braços feito passarinho
sem cobertas, cantando nossa música de amor
sem vergonha, sem malícia,
diz com teu corpo ao meu ouvido: te amo.

E embora há poucos anos,
quando deitados nas calçadas pela primeira vez
repeti o meu verso já antes dito para ti,
criei novas muralhas e guaridas
para que as tempestades de verão não abalassem a nossa cama...

Pois quem tem no outro a parte de si que faltava
diz com total propriedade
que a saudade é a tortura de quem ama...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deusa de hinos, Senhora de mantras



Se quiseres, ainda podes pintar minhas mãos
com teus corações reluzentes...
Se quiseres, não mais que de repente,
faças de mim um velho novo
a voltar para os dezoito...

Se quiseres, esqueçamos os 50 de casados
e corramos pelas ruas
a tropeçar sem as muletas
e sem olhar para os dois lados...

Se quiseres, teu feijão pode queimar...
Nós beberemos coca-cola em todos
os cafes-da-manhã!
Se quiseres, deixamos as doenças de velho,
a cirrose, a gastrite,
a tal da febre terçã,
e vamos para a Quinta
andar naquela curiosa bicicleta...


Se realmente quiseres,
te ensino a tua História
e tu, a mim, Filosofia.
Se quiseres te dou mais poesias,
já que és tu mesma quem as me dá...

Se quiseres
dá-me a tua paz em sirene alta
do meu corpo em chamas,
digas que me odeias e que, depois, me amas...

E então, finalmente,
nestes momentos vespertinos,
te faço outras letras,
outras músicas, outros hinos..

domingo, 21 de agosto de 2011

Tinta de pintar



Quando fores chorar
levas meu ombro,
que são montes por onde correm teus grandes rios...

Quando fores chorar
levas contigo meu peito
e toda a forma musculosa de carícia...

Quando fores chorar
clama ao meu beijo noites de felícia,
pra que a dor de tuas angústias
torne-se também meu agouro.

E ao crescer,
na consciência que excitada faz galgar,
chama meu nome em cada esquina,
pois inda te vejo qual menina
que necessita ter-me perto a respaldar...

E ao crescer,
na infinutude com que te apresentas,
te mostro minha dor quando te ausentas
e as lágrimas no rosto a sangrar...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Imperatriz da Luz (Saudade II)



Sinto saudade das nossas andanças
das gramas presas em minhas pernas...
Sinto grande falta de tuas palavras ternas
que costumavam me afagar
ante a dor de não querer perdê-las.
Saudade tamanha de tuas novelas
que também foram minhas
por toda a hora de amar...

Saudade dos nossos banhos de mar,
dos pupilos que te chamam
na casa de minha avó...
Saudade tenho de toda a parte
que de mim só a ti cabia.
Tens a parte da minha brandura,
da minha alegria.
A parte que eu sempre mais gostei...

E se quando vieste pra mim
julguei-me rei
foi porque tu trouxeste em ti a rainha...
A parte de mim que cabe a ti
é tua.
A parte de mim que cabe a ti
é minha.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pelas tardes que me deixaste (Saudade I)



Sinto saudade dos teus olhos
que penetram os meus em celeste claridade
Sinto saudade pelos domingos a tarde
em que não a vejo.
Saudade também do nosso desejo
profano, divino,
de quando éramos ainda duas crianças...

Sinto saudade das tuas esperanças
de casamento sacro e duradouro.
Saudade das ilusórias alianças de ouro
pra um amor que é, e sempre foi
tão real...

Saudade das nossas lutas com o mal
da não fé, do fanatismo.
Saudade dos teus incensos esotéricos
e das saias que ainda rodam em minha mente.
Saudade da boca sorridente
que me possui em ardilosos beijos...

Saudade do que te completa
do que te torna reta
do que me deixa roto...
Tu foste e ainda não voltaste.
E temo, ao decorrer das tardes,
em tua volta achar-me morto.

Pois nessa nova névoa
que em densas brumas tem se revelado,
ainda espero, sem carne,
a tua chegada...

Abro os olhos ao som
de qualquer pegada
e as pupilas vibram a cada ponto de luz...

A claridade que sempre me amara
faz-me, na falta de mim,
escravo morto-vivo, sem escamas
preso por um só prego na cruz...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dona de meu ser



Lembra-se de quando lhe encontrei nua em seu quintal?
De quando brincávamos de esconde-esconde
a deitar entre as pedras por onde nos esgueirávamos?
E dos tempos que soltávamos os papagaios do teu avô?
Te lembras? Te lembras?

São tempos ávidos em minha mente
Tempos de amor e de amar a todo momento...

E tu, doce de meus lábios cadentes
Tu me eras um tormento
de desejo e excitação juvenil...
Minhas poesias eram sempre um prato
de alívio ante as horas sem teu colo,
sem teu seios a me afagar...

E os banhos de lua que tomávamos
todos os dias
faziam de tua pele mais alva neve que a própria neve
E tudo aquilo que eu lhe devo,
tu, creias, não me deves...

Nosso amor que se perdura
em tão pouco e transcendente tempo,
é-me o alívio por achar-me em ti.
É-me a certeza da volta do Sol
depois da noite de escuridão.
É-me o céu no inferno.
É-me a agitação e o ermo,
o início e o término,
gélida água em ebulição...

Um poema de amor



Aqui está a poesia que tanto me pediu.
Talvez um pouco morta, um pouco fria,
mas meu peito por ora está assim...

Um coração que já bate pouco
sempre espera por morte em tuas faltas...
Parece-me, creio, aquela escuridão voltando...

A luz do Sol não é Claridade.
A luz da lua não é Claridade.
- Como querer a minha não-tristeza?

É teu ser, menina branca,
que me alumia a cada passo dado.
É tua Claridade que me abre o sorriso
e faz-me sempre olhar pra frente,
a esquecer-me, sem medo, os lados...

sábado, 16 de julho de 2011

Amor de Romântico





Eu só sei que é isso o que ocorre.
Nem paz, nem calmaria...
É uma perene guerra entre mim
e sua falta.
E então xingo, grito
e bato a porta do quarto à espera da queda dos muros.

A tristeza é inevitável
e a felicidade não "é só questão de ser".

Amor que é amor é duma tristeza crônica,
tristeza bonita dos românticos
- Aquela, que mesmo quando pelo choro alivia
e pela cama quente acaricia
cospe, bate e faz doer.

Saliva




Sudorese da língua.

domingo, 10 de julho de 2011

"Se tu queres que eu não chore mais"




Não chores
Tu és a alegria de minha casa
Meus meninos que correm fagueiros...

Não chores nunca mais por aquilo que é passageiro
por aquilo que não é peremptório
por aquilo que é corriqueiro

Teu olhar de euforia
com qual me olhas todas as noites
e todos os dias,
é a vontade de ser o que ontem fui: menino...

E os desatinos, que te põem a chorar de desespero
não merecem tua tristeza amargurada,
não são dignos do teu penar...

E pelo teu sorriso de volta em teus lábios
oferto minha alma as trevas de Ades
oferto meus pulmões às aguas de Iemanjá...

sábado, 9 de julho de 2011

Carta de Súplica




Poesia, mão desolada dos eleitos do sofrimento
e do ócio de amar
Vós que sois o amparo
e as asas que aquecem aquele que não possui um amor

Lhe suplico, oh grande entidade benfazeja
Lhe suplico que não me deixes...

Agora tenho um amor, bem o sei
Um amor que me é suficiente
Mas tu, doce ser inerente aos homens
Tu dás a capacidade de ser o mais rico
dentre os que clamam

Poesia, faze de mim teu instrumento
Faze de mim tua casa
Faze de mim tua espera, que veemente de exaspera
e te compraza...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Meu eu-lírico não nasceu para o amor

Abandonei todos ou outros
que um dia já me fizeram alegria
Eu tinha um amor
e nele depositava todo o meu apontamento

Amor de verddae, de gente branca
Amor das veredas sem ópio
e das esquinas com luz

Eu depositei, repito, toda a minha força motriz
Mas antes da aurora de minha vida
sem a Poesia - sonho de todo poeta
eis que a dor do abandono
qual faca de vil engano
cravou-me o peito, reta

E minhas córneas já não mais viram
o sabor doce que é amar
Os demônios da noite aplaudiram
a derrama de sangue em meu agora morto peito

E o desfeito daquela que julguei
ser a mulher de minha vida
foi quixotesca traição
como aquela de lua para mar

Hoje já não quero mais o amor
nem mais as alegrias que supostamente me traz
Amor é capaz de ferir
Capaz de chorar, de sorrir
De acabar com toda a pureza
que em mim existia há tempos atrás...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Corpo de meliante no meio do caminho




No meio do caminho tinha um corpo
Tinha um corpo no meio do caminho
Tinha um corpo
No meio do caminho tinha um corpo

Nunca me esquecerei deste tiroteio
na vida de um morador de favela
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um corpo, tinha um corpo
e tinha também uma pedra.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desespero de Pós-Moderno

Não quero poesias modernistas
Meu peito é negro, é da era dos românticos
Não quero versos livres, ou brancos
sem o sabor que as rimas me dão...

Não quero um moderno coração
nem ao menos um coração moderno
Quero ser roto e sujo, como os verdadeiros poetas

Não quero ser moderno, okay?
Não quero, não quero...

[Sem-Título]





Só faltava um café
a completar este tempo frio...

Poesia? já tenho, e tem nome
Nome das alvas e quentes neves

A noite eu espero
a escrever algumas mediocridades...
Poesia boa é à noite
Poesia do real açoite
dos meninos de tenra idade...

Decadência





Eu tenho um móvel, bem novinho
com 3 cavalos de motor.
O garoto serve de ninho
e de encosto pros doutor...

Eu tinha um móvel, bem novinho
que suava e tudo no andar.
Os passarinho e os doutor
iam nele se encostar...

Já tive um móvel novinho
Vendi assim que a Guerra se deu.
Precisa de queijo e bom vinho
pra contente à mamãe dar adeus...

Morri em ti, Argentina




Voando pelos aires de Buenos Aires
onde o céu é azul feito o mar do Rio
a mulher de atividades vespertinas
quer o mundo tomado num gole de chá inglês...

O companheiro sentado ao lado
dorme contente em corriqueira viagem
A paisagem é fria, qual lareira apagada
qual padaria portuguesa sem freguês...

- Um, dois, três! Apertem os cintos! - Plect!
Num vi que lá atrás, no banheiro pequenino
a madame com o cachorro penteado e perfumado
surfava feliz nos corredores da 1ª classe.

- O avião cairá! rezem e façam despachos! - Saravá!
O velho tirou logo o terço
contando contas em vez de um belo charuto
- Quero café, moça! estou com soluço
- Céu ou inferno! Quer? Vendo passes.



(Não sei por qual motivo, mas me senti um tanto quanto modernista ao fazer esta composição, rs)

Não pra mim, pros outros





Quando o menino é abandonado
pelo seio de pai e mãe
O que lhe salva é a boca
que pede o que há de comer

Vagando em estradas desertas
onde não há água nem facho de luz
o que lhe salva é a fé no Divino
na certeza de um ser superior que o conduz...

Mas na solidão do caminhar
o menino se descobre, enfim, só
E não há Deus, nem matéria
nem o Nada por outros cogitado...

O menino, então, se vê triste e isolado
refém da sua própria miséria

Assim, de vez em quando quase sempre
o dito Existencialismo presente
põe no homem esta pedante ideia...



Talvez dedicado a Sartre, mas não por crer em seu modo de pensar; e sim por admirar os homens que criam novos modos de pensar...

(Desculpem-me, não sei se ficou ruim por ter sido feita dentro do ônibus ou por ter sido só ruim mesmo)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Coisa de velho, coisa de quem ainda sabe amar





Velho
Sem dominós e sem damas
Sem baralhos e jogatinas

Velho
De paredes do quarto vermelhas
De janelas sem bordadas cortinas

Velho
Que reclama por querer ouvir sua boa música
Que só quer pensar sozinho na infinidade das noções poéticas

Velho
Que lê tantas quantas dialéticas
E que samba no chorinho que não é pra jovem

Velho
Que toma licor de café e come bombons de marula
Que faz o que só os velhos podem

Velho
Que conhece o verdadeiro contemplar do mar...

Velho
Que escuta Disritmia
Que sabe valer mais a noite do que o dia
E que escreve poema quando quer amar...


Para Clarice Ramiro, que me ensinou que o samba também fala bonito
Para Willian, que me acha o jovem mais velho do planeta

Existencialismo Ateu em Poucas Linhas

A não-liberdade é impossível, uma vez que a ela estamos condenados. Embora tenhamos a escolha de não escolher a Liberdade, ela é como nossa pena final, virá em algum dado momento, a partir da Idade da Razão. Aí, o homem, tomado em si mesmo, nada mais será do que aquilo que ele faz de si mesmo. E sendo nada mais do que isto, o homem é o único responsável por si mesmo, pelo que é, submetendo-o à responsabilidade total de sua existência. Nem Deus, nem Nada. É aí que está a liberdade consequente. Não existe determinismo. O homem é livre, é total liberdade. Não há nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Nós estamos sós, e é nessa solidão que estamos em em Liberdade.

Elucidações à cerca do amor

Os caminhos são vários, mas só um é o Amor, que lança sua luz sobre todos...

Sendo o Amor um só, não havendo diversas formas do mesmo, quando julgamos amar de forma diferente esta ou aquela pessoa, nada mais é que a intensidade do Amor compatível com esta simpatia.
Minha afinidade maior ou menor com as pessoas X, Y e Z faz com que eu receba o Amor em maior ou menor intensidade, julgando amar mais a um do que ao outro. O Amor é como a água a ser bebida por três distintos homens. A água emana da mesma fonte, mas a capacidade de armazenar determinadas quantidades de água varia de homem para homem.
Não amo mais meu irmão do que o vizinho, porque toda manifestação benéfica é radiação do Amor. Logo, sendo parte deste, este é. Se tenho por meu vizinho um mínimo apreço que seja, tenho por ele uma parte ínfima do Amor.
A convivência, mas não somente, define a compatibilidade entre os seres. E mesmo quando convivemos há muito com determinada pessoa e julgamos não gostar dela, o mínimo sentimento de perdão, compaixão, paciência, por exemplo, demonstra que temos por ela uma ínfima parte de Amor. E quando cremos que não há pelo outro nenhum desses pequenos atributos que caracterizam o Amor, cremos não amar. Porém, na verdade, por não termos uma verdadeira convivência; por não estarmos com a determinada pessoa por longos períodos de situações diferentes, não podemos afirmar tal objeção, já que não tivemos, até então, a oportunidade de demonstrar tal cuidado (seja piedade, misericórdia, paciência ou qualquer outro).
O homem, em suas míseras palavras, não consegue descrever o que sente, nem tampouco conseguirá transcrever o que é o Amor. Mas este, deveras, é um só. Pois, partindo da premissa que Deus é Amor e Deus é Único, o Amor é também Único, indivisível, imaterial, como Deus, que é Ele mesmo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

[Sem-Título]





Por você ponho fogo em meus poemas
Nego toda a Grande Criação

Por você amo crianças chatas que gritam
amo os pássaros que não voam
e os poetas que não deixam a poesia virar canção

Por você eu deixo o Sol nascer mais tarde
pra que a nossa noite seja mais eterna

Por você eu bebo água ainda impura
sem o álcool que não me livra da tua ausência...
Por você eu transcendo antes mesmo de meu deus
Por você eu dou a quem for adeus
e admito o ser que é antes mesmo da existência...

Poesia de fumo





Depois da escrita cansada
Na falta das bonitas palavras
o poeta já viciado
enrola seu pergaminho sagrado
e o acende
dando baforadas de letras avulsas...

[Sem-Título]





Quando a certeza de ser dentro de ti confirmou-se
Pensei, ao certo, não mais escrever
Porque o poeta só escreve da sua chaga de amar
da sua probreza em só ser ele mesmo

Mas quando deitei-me em teus olhos
e brinquei, festivo, em teus cachos
Minha parte em ti
reclamava o compromisso, a responsabilidade
[...]

E então pude perceber tua vida, enfim, na minha
E teu problemas, agora meus
me entristeciam e me alegravam
Pois a água que tomba o navio frondoso
é a mesma que lhe é a dama desejada
O cais que lhe ancora em solidão
é o mesmo das partidas de amor...

O poeta descobriu em tempo
o ser quando a todo momento
Descobriu em tempo que o amor
é de dois seres o rebento
É a ferida mais doída
é a angústia de despedidas
a solidão de quem se ausenta

O amor é o espírito das poesias
a água-benta de todo dia
a comida escrita e sentida que alimenta...

domingo, 5 de junho de 2011

Modinha




Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite bebi
Bebi dos opiáceos noturnos
dos cafés e charutos, bebi...

Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite escrevi
Escrevi um soneto bem pobre
escrevi pequenina ode, escrevi...

Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite morri

Morri por não tê-la em meus braços
por não tê-la comigo, morri...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Carta à Senhora de Mim Mesmo




Quero ser o teu poeta, com palavras e com sonetos
Eu quero ser o teu filósofo, com ideias novas ou inatas
Eu quero ser teu pós-moderno, mas num terno fora de moda
Quero ser teus cílios, a piscarem tão bondosos...

Quero, na tua ausência, ser os corações trevosos
e na tua presença, o leite que sai do mel
Quero tua boca na minha, pra sempre
Quero teu amor e meu amor, condolentes
Quero muitas poesias num papel...

Por que sem ti sou nada
disso já me soube a dor
Por que sem ti desconheço
a alegria, a paz, a Poesia
Por que sem ti eu desconheço o próprio Amor...

Meu anjo sem asas





Deixe-me encher de poesia tua vida
para que tu não sofras
nem ao menos morras...

Pois quem ouve e escuta um poeta
vira anjo
anjo sem asa...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cantiga de ninar




O que é o amor, My Captain?
O que é o amor, perguntei
E My Captain, tímido, disse
Amor? ah, eu não sei...

Me diz, My Captain, me diz
qual poema escrevo para ela
Qual poesia é bela em seu todo
Qual palavra a tornará feliz...

My Captain disse que não havia mais
nem flor, nem poema de amor
que falasse mais que a língua paralítica de Augusto
que transcrevesse mais que a nossa própria dor...

E então chorei no ombro
daquele que me desiludiu
E My Captain, solene, disse: olhe
o amor em ti surgiu...


Para My Captain

terça-feira, 31 de maio de 2011

Saudade





Passarinho azulado
Pequenino de frio
Que na chuva ou no sereno
em mergulhos alegres num rio
Chora a mamãe perdida
e os irmãos que lhe abandonaram...

Que pia, furtivo e tristonho
pela lembrança dos que já o amaram

domingo, 29 de maio de 2011

Que eu não me perca em não te amar





A angústia que nasce com a manhã
no fim do dia não se finda
Pois é na noite, negra e cálida
que teu rosto e tua voz, aguda e pálida
me fazem ainda mais chorar...

Os ares não me são novos
nem estrelas brilham no céu
Pois é na noite, noite minha, somente
que vejo teu rosto em minha mente
que vejo teu ser amável voar...

E mais uma vez não estás comigo
Mais uma vez não estás em meu ninho
Então permaneço só, e triste
sem teus seios a me darem o necessário carinho
Sem respirar de ti o mesmo ar...

Mata-me de vez, Senhora das Neves vermelhas
de batom, brincos e esmaltes
Não deixes que meu peito outra assalte
e que eu me perca em não te amar...

Tua ausência é falta de mim mesmo





É sempre na tua ausência que me perco
e caio dentro do que está fora de mim...

É sempre quando não te acho nas ruas
nem nas salas por nós habitadas
que vejo pelo ópio duendes e borboletas
a lutar com demônios nas escadas...

Nas noites frias que tu me tens
Eu não te tenho, bem o sei
E isso faz de mim o pior entre os homens
E o pior entre os poetas, creia

E em meus poemas
que falam da terra, de deuses, fadas e sereias
só conto o que não há de me convir...

Porque o amor
e a vontade de "estar perto, se longe; e mais perto, se perto"...
Ah, esse ínfimo desejo
eu só encontro em ti

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Delírios da Poesia





A poesia foi quem amou de verdade
Amou o poeta ainda que inconscientemente
Pois mesmo de forma oculta
Sabe que o poeta
vagabundo eterno pelas vielas do mundo
é o único que lhe compreende, que lhe interpreta...

Por isso, num desses dias
que o poeta escreve
Como em todo grande amor há ilusão
Deixou o poeta só
a esperar pelos comandos do coração...

E o vagabundo deveras nato
não pôde mais escrever belamente
Porque seu peito era escuro e frio
Era cheio de dor, somente...