terça-feira, 28 de junho de 2011

Corpo de meliante no meio do caminho




No meio do caminho tinha um corpo
Tinha um corpo no meio do caminho
Tinha um corpo
No meio do caminho tinha um corpo

Nunca me esquecerei deste tiroteio
na vida de um morador de favela
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um corpo, tinha um corpo
e tinha também uma pedra.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desespero de Pós-Moderno

Não quero poesias modernistas
Meu peito é negro, é da era dos românticos
Não quero versos livres, ou brancos
sem o sabor que as rimas me dão...

Não quero um moderno coração
nem ao menos um coração moderno
Quero ser roto e sujo, como os verdadeiros poetas

Não quero ser moderno, okay?
Não quero, não quero...

[Sem-Título]





Só faltava um café
a completar este tempo frio...

Poesia? já tenho, e tem nome
Nome das alvas e quentes neves

A noite eu espero
a escrever algumas mediocridades...
Poesia boa é à noite
Poesia do real açoite
dos meninos de tenra idade...

Decadência





Eu tenho um móvel, bem novinho
com 3 cavalos de motor.
O garoto serve de ninho
e de encosto pros doutor...

Eu tinha um móvel, bem novinho
que suava e tudo no andar.
Os passarinho e os doutor
iam nele se encostar...

Já tive um móvel novinho
Vendi assim que a Guerra se deu.
Precisa de queijo e bom vinho
pra contente à mamãe dar adeus...

Morri em ti, Argentina




Voando pelos aires de Buenos Aires
onde o céu é azul feito o mar do Rio
a mulher de atividades vespertinas
quer o mundo tomado num gole de chá inglês...

O companheiro sentado ao lado
dorme contente em corriqueira viagem
A paisagem é fria, qual lareira apagada
qual padaria portuguesa sem freguês...

- Um, dois, três! Apertem os cintos! - Plect!
Num vi que lá atrás, no banheiro pequenino
a madame com o cachorro penteado e perfumado
surfava feliz nos corredores da 1ª classe.

- O avião cairá! rezem e façam despachos! - Saravá!
O velho tirou logo o terço
contando contas em vez de um belo charuto
- Quero café, moça! estou com soluço
- Céu ou inferno! Quer? Vendo passes.



(Não sei por qual motivo, mas me senti um tanto quanto modernista ao fazer esta composição, rs)

Não pra mim, pros outros





Quando o menino é abandonado
pelo seio de pai e mãe
O que lhe salva é a boca
que pede o que há de comer

Vagando em estradas desertas
onde não há água nem facho de luz
o que lhe salva é a fé no Divino
na certeza de um ser superior que o conduz...

Mas na solidão do caminhar
o menino se descobre, enfim, só
E não há Deus, nem matéria
nem o Nada por outros cogitado...

O menino, então, se vê triste e isolado
refém da sua própria miséria

Assim, de vez em quando quase sempre
o dito Existencialismo presente
põe no homem esta pedante ideia...



Talvez dedicado a Sartre, mas não por crer em seu modo de pensar; e sim por admirar os homens que criam novos modos de pensar...

(Desculpem-me, não sei se ficou ruim por ter sido feita dentro do ônibus ou por ter sido só ruim mesmo)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Coisa de velho, coisa de quem ainda sabe amar





Velho
Sem dominós e sem damas
Sem baralhos e jogatinas

Velho
De paredes do quarto vermelhas
De janelas sem bordadas cortinas

Velho
Que reclama por querer ouvir sua boa música
Que só quer pensar sozinho na infinidade das noções poéticas

Velho
Que lê tantas quantas dialéticas
E que samba no chorinho que não é pra jovem

Velho
Que toma licor de café e come bombons de marula
Que faz o que só os velhos podem

Velho
Que conhece o verdadeiro contemplar do mar...

Velho
Que escuta Disritmia
Que sabe valer mais a noite do que o dia
E que escreve poema quando quer amar...


Para Clarice Ramiro, que me ensinou que o samba também fala bonito
Para Willian, que me acha o jovem mais velho do planeta

Existencialismo Ateu em Poucas Linhas

A não-liberdade é impossível, uma vez que a ela estamos condenados. Embora tenhamos a escolha de não escolher a Liberdade, ela é como nossa pena final, virá em algum dado momento, a partir da Idade da Razão. Aí, o homem, tomado em si mesmo, nada mais será do que aquilo que ele faz de si mesmo. E sendo nada mais do que isto, o homem é o único responsável por si mesmo, pelo que é, submetendo-o à responsabilidade total de sua existência. Nem Deus, nem Nada. É aí que está a liberdade consequente. Não existe determinismo. O homem é livre, é total liberdade. Não há nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Nós estamos sós, e é nessa solidão que estamos em em Liberdade.

Elucidações à cerca do amor

Os caminhos são vários, mas só um é o Amor, que lança sua luz sobre todos...

Sendo o Amor um só, não havendo diversas formas do mesmo, quando julgamos amar de forma diferente esta ou aquela pessoa, nada mais é que a intensidade do Amor compatível com esta simpatia.
Minha afinidade maior ou menor com as pessoas X, Y e Z faz com que eu receba o Amor em maior ou menor intensidade, julgando amar mais a um do que ao outro. O Amor é como a água a ser bebida por três distintos homens. A água emana da mesma fonte, mas a capacidade de armazenar determinadas quantidades de água varia de homem para homem.
Não amo mais meu irmão do que o vizinho, porque toda manifestação benéfica é radiação do Amor. Logo, sendo parte deste, este é. Se tenho por meu vizinho um mínimo apreço que seja, tenho por ele uma parte ínfima do Amor.
A convivência, mas não somente, define a compatibilidade entre os seres. E mesmo quando convivemos há muito com determinada pessoa e julgamos não gostar dela, o mínimo sentimento de perdão, compaixão, paciência, por exemplo, demonstra que temos por ela uma ínfima parte de Amor. E quando cremos que não há pelo outro nenhum desses pequenos atributos que caracterizam o Amor, cremos não amar. Porém, na verdade, por não termos uma verdadeira convivência; por não estarmos com a determinada pessoa por longos períodos de situações diferentes, não podemos afirmar tal objeção, já que não tivemos, até então, a oportunidade de demonstrar tal cuidado (seja piedade, misericórdia, paciência ou qualquer outro).
O homem, em suas míseras palavras, não consegue descrever o que sente, nem tampouco conseguirá transcrever o que é o Amor. Mas este, deveras, é um só. Pois, partindo da premissa que Deus é Amor e Deus é Único, o Amor é também Único, indivisível, imaterial, como Deus, que é Ele mesmo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

[Sem-Título]





Por você ponho fogo em meus poemas
Nego toda a Grande Criação

Por você amo crianças chatas que gritam
amo os pássaros que não voam
e os poetas que não deixam a poesia virar canção

Por você eu deixo o Sol nascer mais tarde
pra que a nossa noite seja mais eterna

Por você eu bebo água ainda impura
sem o álcool que não me livra da tua ausência...
Por você eu transcendo antes mesmo de meu deus
Por você eu dou a quem for adeus
e admito o ser que é antes mesmo da existência...

Poesia de fumo





Depois da escrita cansada
Na falta das bonitas palavras
o poeta já viciado
enrola seu pergaminho sagrado
e o acende
dando baforadas de letras avulsas...

[Sem-Título]





Quando a certeza de ser dentro de ti confirmou-se
Pensei, ao certo, não mais escrever
Porque o poeta só escreve da sua chaga de amar
da sua probreza em só ser ele mesmo

Mas quando deitei-me em teus olhos
e brinquei, festivo, em teus cachos
Minha parte em ti
reclamava o compromisso, a responsabilidade
[...]

E então pude perceber tua vida, enfim, na minha
E teu problemas, agora meus
me entristeciam e me alegravam
Pois a água que tomba o navio frondoso
é a mesma que lhe é a dama desejada
O cais que lhe ancora em solidão
é o mesmo das partidas de amor...

O poeta descobriu em tempo
o ser quando a todo momento
Descobriu em tempo que o amor
é de dois seres o rebento
É a ferida mais doída
é a angústia de despedidas
a solidão de quem se ausenta

O amor é o espírito das poesias
a água-benta de todo dia
a comida escrita e sentida que alimenta...

domingo, 5 de junho de 2011

Modinha




Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite bebi
Bebi dos opiáceos noturnos
dos cafés e charutos, bebi...

Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite escrevi
Escrevi um soneto bem pobre
escrevi pequenina ode, escrevi...

Meu peito sangrou esta noite
E a livrar-me do açoite morri

Morri por não tê-la em meus braços
por não tê-la comigo, morri...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Carta à Senhora de Mim Mesmo




Quero ser o teu poeta, com palavras e com sonetos
Eu quero ser o teu filósofo, com ideias novas ou inatas
Eu quero ser teu pós-moderno, mas num terno fora de moda
Quero ser teus cílios, a piscarem tão bondosos...

Quero, na tua ausência, ser os corações trevosos
e na tua presença, o leite que sai do mel
Quero tua boca na minha, pra sempre
Quero teu amor e meu amor, condolentes
Quero muitas poesias num papel...

Por que sem ti sou nada
disso já me soube a dor
Por que sem ti desconheço
a alegria, a paz, a Poesia
Por que sem ti eu desconheço o próprio Amor...

Meu anjo sem asas





Deixe-me encher de poesia tua vida
para que tu não sofras
nem ao menos morras...

Pois quem ouve e escuta um poeta
vira anjo
anjo sem asa...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cantiga de ninar




O que é o amor, My Captain?
O que é o amor, perguntei
E My Captain, tímido, disse
Amor? ah, eu não sei...

Me diz, My Captain, me diz
qual poema escrevo para ela
Qual poesia é bela em seu todo
Qual palavra a tornará feliz...

My Captain disse que não havia mais
nem flor, nem poema de amor
que falasse mais que a língua paralítica de Augusto
que transcrevesse mais que a nossa própria dor...

E então chorei no ombro
daquele que me desiludiu
E My Captain, solene, disse: olhe
o amor em ti surgiu...


Para My Captain