quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Samba de poeta



O que é que o samba fala?
O que é que o samba diz?
Samba de raiz, roda de gala,
eu sou poeta mas também sou aprendiz...

Quem faz o samba sente a dor sempre mais perto,
não é esperto o poeta que sorri.
Se é longe a alegria do que pensa,
a tristeza, em recompensa, bem contente está aqui...

Eu danço o samba que eu faço e que escrevo
com muito amor e um pesar no coração.
E se a mulata não me vêm dançar não ligo,
puxo um amigo, ou se não der, puxo um irmão...


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Ante-véspera de Natal

São prantos os cantos do poeta.
E choro, e lástima.
E murmúrio solitário.

Decerto que trocaria o copo apoiado sobre a mesa.
Decerto, tenho certeza, que trocaria por um beijo o seu lamento.

Mas parece que a Musa,
já sabendo do poeta o seu ofício do sofrer,
lhe abastece, bem contente, desta lástima
infinita que o poeta finge ter.

Pois que os amores do poeta são inventados,
e o seu pranto é placebo à solidão.
Mas que ele vive dessa dor dissimulada
é verdade, embora não haja nisto razão.

Eu só escrevo porque eu sei não ser poeta.
Eu escrevo porque o poeta não escreve.
Não interrompe o seu sono, não se mede
por uma frase ou por uns versos corrompidos.

Escrevo porque quero ser poeta.
Porque eu quero, e desejo e necessito.
Ser o poeta que deserda de seu íntimo
em prol da Poesia que lhe dá maior perigo:

o Amor..

sábado, 1 de dezembro de 2012

Moça Branca VII - Dor de amar eu sei de cor


Minha dor se escreve no peito.
E nunca se escreveu melhor
outra coisa em minha pele.
Dor de amar eu sei de cor.

Está tudo aqui gravado,
em meu peito então choroso,
este canto ensimesmado,
canto à Moça decoroso.

Um coração revoltoso,
pela dor embrutecido,
desfaz-se em bela plumagem,
transveste-se em nova paisagem,
fica de amor enaltecido.

O amor é o corretivo
aos delírios do poeta,
vivente dos sonetos infelizes,
ator de uma vida menos reta.
O amor é a vacina
pra doença do viver.

E que falem de outras artes
e outros modos de ao mundo se expor.
É só a Poesia que é rota, que é via:
só a Poesia é Amor.


Para M.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Palavra Viva

 
Não só lhe quero em meus versos.
Não só lhe quero derramada em minhas páginas.
Quero-lhe mais, e ainda mais!,
na folha branca do meu lençol pungente...

Quero-lhe as linhas onde escrever a nossa história,
a tinta negra da caneta que excita. 
Quero-lhe caderno, livro, rasgo, síncope desvairada,
oceano de prazeres que o meu corpo incita.

Não só lhe quero em meu versos.
Tampouco solidez de palavras frias e inexpressíveis.
Quero-lhe Poesia perfurante,
decassílabos desrespeitados, gosto rascante,
corpo sibiloso e torpor temível...


Para Luisa Sant'Anna

Cidade-clausura

Não aguento esta distância, esse abismo.
Esta cidade transvestiu-se em mortalha.
Fica contida a minha paixão infinita,
está cercada por muros. Não espalha.

Estou de um lado, você de outro.
Tu te banhas só do amor que vaza dos furos
que eu cavo com minhas unhas de esboço
e com o pensamento em nosso futuro.

Eu desejo, meu amor, tão grandemente,
de que com todo o meu amor te vais banhar!
Quero-te ser bem mais que a terra que firma teus pés...
Quero-te ser a inconstância das águas do mar!


Para Luisa Sant'Anna

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Uma palavra

Ao amar-te só, na finitude de nós dois,
quem contará, depois, das tempestades da doce liberdade?
Preciso de ti mas não te posso um só momento...
Pois que nos deixaremos ser como o vento no afundar de nossas paixões...

Eu prefiro amar-te assim, bem amiúde,
tendo em cada cabeça tua repousada em meu ombro
o orgasmo inatingível que o meu corpo nem espera.
Prefiro-te assim, expansão e concretude
nas coisas belas que eu quis e que eu não pude,
no amor que não se finda, que desfaz e regenera...


Para Luisa
Para Morena do Jongo
Para Ana
Para Z.S.
Para I.L.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Vodca, poesia e amor todo dia





Vem aqui pra casa.
Nós dois precisamos morar juntos.
Precisamos nos aquecer da vida,
precisamos nos esquivar do mundo.

Vem aqui pro meu peito
que precisamos morar no mesmo corpo.
Precisamos da veste da paixão
pra contrastar nosso visual tão roto...

Vem, que te dou banho
e te faço a comida.
Te dou abrigo e acompanho pelos bares.
Te compro flores e caminho de madrugada.

Nós temos que nos perder juntos.

Vem aqui pro meu quarto.
Vem, que ouviremos nossas canções.
Vem que brindaremos com nossos corpos
o vinho quente de nossa amizade.

Vem, que te dou
sorrisos de amar e alegria.
Te dou o ópio de esquecer o passado.
Vem que te dou fantasia,
e o desmoronar de todos os lados...


Para Luisa Sant'Anna

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Luisa: Tempo agora

Ao poeta que madruga
antes da escura e trevosa alvorada,
o que o salva é a figura
tão doce e clara da mulher amada...

Hoje me faço e me desfaço em ti, Luisa.
E me és agora excitante disparate
com os teus castanhos cabelos soltos
e as mil línguas que tremulam na tua boca enternecida...

Tu me és, Luisa, Luisa querida,
a mão amiga com o cheiro da paixão!
O meu altar de belos sórdidos pecados,
o meu tempo agora de exaltar o sagrado,
o meu novo templo onde beber profanação...


Para L. Sant'Anna

domingo, 11 de novembro de 2012

Moça Branca VI - Garrafa de vodca



Você deve ter um amor.
Eu só tenho minha garrafa de vodca.
Você deve ter uma família
e eu só tenho meu cachorro Rex.
Você deve ter belas fotografias.
Eu só tenho um espelho quebrado no banheiro...

Você deve ter um grande amor,
que te ama.
E eu só tenho você.
E minha garrafa de vodca.


Para M.

sábado, 10 de novembro de 2012

Moça Branca IV - Regresso




Eu voltei como um deus,
por cima das belas nuvens.
Na condensação das águas que meus olhos choram.

Voltei 
porque achei que fosse cedo demais para ir.

Quero-te mais minha,
quero-te mais dona dos meus escritos e lamentos.

Pecado foi ousar querer esquecê-la!
Ainda recaio sobre tuas fotografias todos os dias.
Pecado é querer e não poder vê-la,
tecer sobre os dias somente agonias.

Estou de volta, Moça Branca.
E ao nosso amor cabe o sim ou o não se dar.
Cabe a ele o despertar da nova vida,
ou ao fogo ardente meu corpo ofertar...


Para M.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Preta do Jongo

Sei que preferirias o meu peito invocado
dançando contigo na roda negreira do nosso terreiro.
Sei que preferirias meu punho cerrado a combater
o açoite desumano do chicote dos brancos.
Sei que preferirias que eu fosse ketu, como tu,
em vez de torpe rapazola amedrontado.

Mas tua imponência me dá medo, minha preta.
E tuas saias de kizomba entorpecem-me a alma.
Quando tu danças com os deuses esse jongo,
e repartes para os homens o suor de um Orixá
- Oh, minha amiga preta, minha Preta do Jongo!
a vontade que tenho é de contigo dançar!

Preta do Jongo, preta de minha alma,
a poesia é a única dança que me acalma!

E eis aqui o teu poema, amiga minha!
Que Aruanda nos proteja de todos os males,
e que Olorum seja a terra que nos aninha!


Para Tainá Gamelheiro


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

É o que temos pra hoje

É o que temos pra hoje.
Amar e não sermos amados.
Querer o beijo de quem não podemos.

O que temos pra hoje é a angústia
de querer fugir e não poder.

É o que temos pra hoje.
Esta noite calorosa sem amor.
Esta fome grandiosa de paixão,
e nem uma mísera migalha para nos mitigar o desejo...

O que temos pra hoje, camarada,
é a cova funda da Solidão.
É o descompasso em nosso peito aberto,
é a Treva, o Obscuro, a Ilusão.

É o que temos pra hoje.
E talvez pra amanhã.
E talvez pra depois, e depois, e depois.

É o que temos pro ad aeternum:
essa coisa de estar bem
só se estivermos a dois.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Beijo português




Teu beijo em meu pescoço
foi o adeus inusitado.
Pelas ruas cá do Porto
escuto o fúnebre fado...

Que conta, bem meu, a nossa história,
nosso amor sem fim.
Fado maldito, gaita maldita,
perfumados pelos campos de alecrim...

Ó Portugal gigante,
ó amor grande que meu coração matou!
Tua boca vermelha
é fruto primaveresco que o inverno alegrou!

Te canto meu fado
com triste pesar...
Teu peito alado
deixou-me a chorar.

A ti eu amava,
ó branca, inda amo!
Teu corpo molhado
é hoje meu pranto...


Para M.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Moça Branca II

Que nos beijemos precocemente,
pois que a morte ali me espera!
Quero teu corpo e a tua mente
cravada em mim pelo correr das eras!

E teus cabelos, e tuas mãos
e tuas pernas junto às minhas!
Que afago, que combustão
neste emaranhado com que me aninhas!

Moça branca, moça branca!
Por que só agora tu me surgiste,
a dilacerar meu coração?
Por que somente hoje tu me sucumbiste
às profanadas chamas da vil danação?

Temo pelos dias
que, ligeiros, se avizinham...
Os meus vintes anos chegam
e a Morte senta à escrivaninha
como quem diz: daqui eu não saio!

E não há na vida ensaio,
a menos que se encene na morte!
Quero-te mais e agora!
Quero-te triunfo amável da sorte!


Para M.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Moça Branca

Então você surgiu na minha frente,
transeunte desse espaço nebuloso...
E fez surgir em mim tão de repente
a angústia de um deleite pavoroso...

Sabor amargo da insuficiência,
ardor no peito desalmado...
Meu coração é gaiola
pras grandes asas do teu cavalo alado.

Eu sei do quão estranho eu sou.
E do quão mais requisitado o teu amor é...
Mas como seria belo eu ser teu homem
e de volúpias poéticas te fazer minha mulher!

Oh branca da boca vermelha!
Oh lua de um céu tão impossível!
Deixa-me navegar por entre as ondas
deste teu mar de mel imprevisível!

Oh menina moça!
Oh pássaro reluzente a voar contente na amplidão!
Ceifa-me a dor de ser poeta não-amado,
interrompe no mundo a sina do poeta abandonado,
e leva-me, correndo, aos braços, pro latifúndio livre do teu coração!


Para M.

O amor só entra por orifícios

Não se ama uma só vez
porque nós não somos um.
Somos amálgama da tez
de todos os corpúsculos do mundo...

Não se pode amar só uma vez,
nem somente só a um ser predestinado.
Pois que tão pouco há na viuvez
da pureza do amor todo de uma vez
quanto da sanidade em se corroer enlutado.

Não há grande amor, ou amor pequeno.
O amor visto no mundo é fruto de nossa aparência.
Não se espera do são uma cólera,
nem do profanado cão a decência...

E quais perfurados cubos
são os homens desta terra.
O quanto de amor que vos é devotado
é medido pelo quanto o seu furo revelado reverbera.

É na grandiosidade ou pequenez do furo
a medida da grande ou pequena paixão.
Quanto mais puro e santo o beato,
menor se avista a sua profanação...

Não há pequeno furo na parede
que faça muita água em si passar.
Se há um rio de paixão que aqui se passa,
o amor é mais! - é turbilhão de ondas grandes feito o mar.

Se te insinuas mais a uns do que a outros,
é que para aqueles os teus furos mais se abriram...
Sentindo o cheiro do amor, que é doce e quente,
os furos-boca intransigentes ao desejo sucumbiram...

Todavia não te culpes, não te culpes,
pelo furo pequenino,
que o amor quando menino
é também um bravo amor.
Bastar-lhe-á o primeiro cheiro,
o primeiro gosto.
Bastar-lhe-á um belo rosto
para abrir-se-lhe em furor!

E muito invejosos são
os homens sem orifícios.
E neles não há paixão,
delírio, flerte, ilusão.
São escravos eternos do sacrifício!

E muito furados são
os homens-cubos-loucos da minha casa.
Mas amar o mundo, ser campo fecundo,
é a ternura certa que nos liberta e nos compraza!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Que eu beijei o mel na boca de uma mulher





Eu nunca beijei uma boca tão macia quanto a tua.
Toda a minha agressividade,
toda a minha dureza de bêbado louco se desfez.

Teu beijo foi a primeira vez,
foi a primeira vez que encontrei estrelas no céu da boca de alguém.
E eu sei do desdém e do descaso,
da paixão e do arraso de uma boca feminina
quando repousa na minha.

É a triste sina do menino-homem,
do homem-jovem poeta.
Mas se tua língua vem e me perde,
escolho sim esta vida, vida assim, menos reta.

Pois que não há de ser pior do que já foi.
Tu não hás de me pintar com cores mais doloridas
do que as que já me foram pintadas.

Estou me sentindo passarada.
Água pingada da chuva que corre ao encontro do mar.
E se a vida for mais tranquila sem a paixão submergida,
eu fujo contigo às turbulências da paixão do afogar!

Prosa triste

Desde quando me assumi como poeta eu não escrevo. Desde quando me assumi sendo aquilo que não me considero como e quanto tal eu travei. Deixei de ser poeta quando me afirmei poeta, quando supus ser poeta, quando supus ser o que não sou.
Os homens não são homens porque se consideram homens. Falta a esta coisa que somos nós a obscuridade própria da individualidade. É na construção perpétua que o Ser é gerado. E construções produzem fumaça.
Desde quando eu disse ao mundo: sou poeta, eu sou gauche! - minha escrita desandou, um mar de inércia isto me trouxe. O sonho está chegando ao fim, estou deixando de ser menino para me tornar rapaz.

E rapazes não escrevem poema.

sábado, 27 de outubro de 2012

As Marias de ninguém

Três Marias e um João.
Esse amor tão pervertido
de carne e sal e libido,
de paixão que é de espalhar...

O João e três Marias.
Ele quase não dá conta
do que as meninas aprontam
na cópula poligâmica...

O João e duas Marias,
uma prepara a comida,
as outras são a comida
do João neste momento...

O João e uma Maria,
a primeira lava a louça,
a segunda se faz moça no novo sangue que cospe.
A terceira lava a alma de João
com os seus fluidos...

O João sem as Marias.
Está dormindo, isto é certo.
E as três armam um plano esperto
para João alguém matar...

Três Marias sem João.
Hoje tem festa na casa.
Mais cedo fizeram o homem virar ave,
e chispou batendo asa.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A direção é do sonhar

Hoje eu quero dormir cedo.
Quero ter mais tempo pra sonhar.
Quando tudo se mostra mais fácil e vazio,
eu gosto de ir contra o rio e remar.

Quando a gente sonha por mais tempo
é menos tempo pra viver o que não importa.
E que seja sempre assim, monte de sonos,
que o dormir nesta via turbulenta é bônus
contra o engarrafamento crônico de pessoas mortas.

A gente gosta do caos, do pensamento.
A nós não importa o que é comum, o corriqueiro.
E enquanto queremos o volante de um carro,
sabemos do quanto vocês gostam da vida de passageiro.

sábado, 20 de outubro de 2012

Musicata de frases curtas

Quando se faz dia,
se faz noite e nada sai.
Quando há amor, orgia e sexo
e tudo que distrai.
Quando há desejo
e o lampejo da libido,
é que me descubro baixo,
um homem cheio dos perigos.

Sai família, sai mulher, sai amantes e amigos.
Nada fica, e nada entra, e nada vem e desespera.
Quando o homem se entrega desta forma
é a solidão da cama e a lama que o espera.

A arte vira artesanato quando se pensa no outro.
A vida do homem moderno é cheia de conexões.
Estar só é peça-chave da liberdade,
estar só é estar cheio de suas convicções.

sábado, 13 de outubro de 2012

Encantamento

Algumas mulheres me fazem querer amá-las.
São doces, de olhos claros ou escuros. Cabelo curto ou comprido.
Tenho vontade de querê-las. Todas morando em mim.

Algumas mulheres têm o poder de despertar em mim
meus sentimentos mais obscuros.
É estranho e bom olhar para todas estas...

É um querer amar infundado
(como se o amor fosse passível de explicação!)
que me toma o peito em melhores estados,
e me faz escrever sem minha companheira Angústia.

Santas mulheres, demônios encarnados!
Grande confusão me faz estar agraciado
e me dá por tanto tempo o tesão da inspiração!

Santas mulheres, santas e intocáveis!
Que me toquem ao menos por uma vez é o que quero!
Seja pelo anoitecer, ou amanhã - eu não me importo.
Se me prometerem chegar bem tarde, também espero!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Tanto mar

Muito mar e muito peixe,
mas nenhum hábil pescador...
Há de se convir que numa paixão, ao abrir-se o fecho,
encontra-se muito menos alegria do que dor.

E muito embora se apresente muita água em bravura,
a falta de amor aparente
aumenta da água a textura.

E causa o afogamento dos peixes
e a poluição da terra inundada...
Que fazer se prefiro a clausura da Solidão
a torpe paixão inventada?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Considerações antes do funeral - Trechos

Trechos do futuro livro de Guilherme Gonçalves de Brito

1) "É difícil não ceder ás tentações que lhe aparecessem, eu sei. Fica uma angústia pelo que poderia vir em consequência da aceitação... Mas eu também sei do quanto você é inconstante, meu camarada. E ninguém merece o sofrimento de ser feito objeto de prazer momentâneo para, em seguida, ser cuspido da mesma boca que o beijava.

2) "Chega, seu tolo! Que história de amor o quê! Que romance, que paixão! Chega de poesia ridícula, de música de velho, de boemia, de uísque! Chega, você é oco como todos nós! Hahahahaha, tolo, tolo, tolo! Acha mesmo que teu peito palpita diferente só porque você curte a boa música burguesa? Deixa de ser iludido! O amor é uma farsa! Os homens comem os homens, animais que somos. E nada mais. Você é mais uma refeição. E nada mais. Nada mais!"

3) "Essa coisa de se achar e se perder é sempre muito complicado. Começo a achar que vocês têm razão. Talvez seja parte do ser oco achar-se algo."

4) "Não posso amar uma única pessoa. Não posso, não consigo. A obrigatoriedade da monogamia me assusta. Eu gosto é da expansão, da coisa compartilhada. Não estou fazendo apologia à orgia, longe disso. O que eu queria na minha vida era poder deitar com todas as pessoas que amo, fazê-las transbordar da minha paixão. Só isso..."

5) ‎"Ter como caminho o descaminho só torna as coisas mais complicadas, meu filho. Saibas que só serás feliz quando tua cabeça soltar menos fumaça. Pensar e só pensar torna tudo mais difícil. Sim, eu sei o quanto você acha bonito essa coisa do sofrer pela Verdade, mesmo tendo a sua como a não-crença em uma. Sinta e não tenha a necessidade de racionalizar o que sentes. Aí tu sentirás o mundo solto dos teus pés."

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como um rio que não desagua

Seriam necessárias muitas margens
para eu despejar todos os rios que se encerram em mim.
Tenho me sentido uma grande bacia,
que tem nos olhos o furo pequenino
por onde escorre o mínimo da água-lágrima possível...

Preciso me rebentar,
explodir, desaguar.
Preciso de rasgos, das desilusões dos encantamentos.
A água de minha alma está parada.
Lamacenta, nada produz.
E o meu corpo-limite desfila
na fila mortal dos homens comuns...

Que meu rio encontre novos rios,
é o que eu mais quero.
Agora eu tenho estado perdido.
Mas por algum motivo
creio que isto seja me achar...

Preciso ser qual cachoeira, qual catarata.
Porque quando não se desagua, seca-se.
Quando não se desmonta em correntezas maiores, esquece-se,
e é a estiagem da alma quem impera.

Eu preciso é da volúpia da saliva,
das águas quentes da carícia,
das turbulências dionisíacas,
da juba grande da Quimera.

Oh, deus das águas,
dá-me logo as tuas margens...
Dá-me as roupas que tu fazes,
que não me cabem mais as carnes da Terra.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Demonidade




A minha alma é impestada de demônios.
Há em cada quarto do meu ser uma confusão infinita de demonidades.
São muitos os gritos. Tantos que nem os ouço.
O que sinto, realmente, é o roçar dos tridentes no meu corpo.

Os demônios fazem arruaça.
Fazem festa, tacam fogo,
sujam e cospem nos meus campos de tranquilidade.

Os demônios me roubam a fé,
me tiram do amor a credulidade.
E não há em mim um único diabinho bom,
um que se coloque no lugar do poeta-palco das encenações infernais.

Mas veja! ser moradia de demônios me é tão belo,
tão grande é a inconstância provocada,
que querer-me bem é tentativa equivocada
- Pois que prefiro estar é nos confins do inferno!


domingo, 30 de setembro de 2012

Último canto à Morena do Jongo




Hoje me venho despedir.
É meu último canto àquela que me fez
brilhar os olhos por tanto tempo...
Hoje eu decidi partir,
deixando livre a tua formosura, a tua tez
desvairada que me era tão alento...

Nunca mais louvarei a ti, Morena do Jongo.
Nunca mais estraçalharei meu coração
com poemas joviais e de utopia...
Tu me deste de presente um grande tombo,
uma grande queda na oscilação
das tormentas que me tiram toda a alegria...

Que tu não me amas bem o sei,
mas é sempre bom a loucura de uma invenção
porque nem só da concretude vive o homem...
Mas esse teu desprezo quase-lei,
esse asco de teus olhos que consomem,
foi deveras vil, grande facada e dilaceração.

E, muito embora por ti o coração tolo do poeta ainda palpite,
estou decidido a nunca mais sonhar com tuas saias,
a nunca mais querer o cheiro dos teus cabelos...
Minha paixão será consternada,
será o filho trancado em seu quarto por castigo,
o uivado da Tristeza por sua grande solidão...

Este é teu último poema, Morena.
Este é teu último hino, teu último louvor.
Meu último amor em forma de canção...


Para B.I.

sábado, 29 de setembro de 2012

Mais um canto

Hoje é dia de cantar.
Está tudo preparado.
Os amigos me esperam com a alegria de um pai ao filho prestes a nascer.
Levo comigo uma garrafa de poesia
e um aguardente de libido...

Tenho em meu chapéu todos os vícios do mundo.
Na gravata estão pendurados todos os demônios da noite.
E meu paletó esconde os incensos que embriagarão a todos.

Hoje é dia de canto.
Um beco, uma viela, uma rua qualquer...
Lá faremos festa, com aquelas mulheres sadias
e com os camaradas mais jovens.
Uma baixeza que só.

Cantaremos, beberemos e faremos
tudo aquilo que não nos é possível fazer.
Voltaremos para casa somente quando o Sol
começar a iluminar nossa escuridão.

E então dormiremos durante todo o dia.
Como morcegos. Como ladrões.
E continuaremos a enganar nosso espírito,
tirando ele da bela vida sensata, de mula,
aquela vida que nos faz ficar 15 anos de cama,
morrendo de falência múltipla dos órgãos...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A vida é um caminhar

Há no mundo tantos meandros,
tantas ruas, tantas vielas,
tantos descaminhos astutos,
tantas composições feias e belas!

Há caminhos desvairados
por dentre as serras mui nebulosas...
Há palmeiras enviesadas,
leites com mel e leite de rosas.

Há as trevas e os grandes poços
mui lamacentos.
Há cidades deveras belas com grandes portos,
e há Sorrento.

Há no mundo tudo o que sabemos
e aquilo, também, que não se pode conhecer.
Há tantas infinidades,
há paixões grandiosas e mediocridades,
viveres e fenecer...

Só não há no mundo o Amor,
nem qualquer pequeno galho que dele descenda.
Pois que não há monstro que sinta saudade,
nem que do afago de algum bem dependa...

Tal é a vida do Homem,
que é no mundo apenas do nada representação...
Que é o monstro que a si próprio consome,
e que só sente fome do vazio da ostentação...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Quando eu morrer

Quando eu morrer
não quero pastor nem padre rezando...
Chamem os curimbeiros, os ogãs e aquelas mulheres lindas e negras,
que cantam como os deuses.
- Detesto hipocrisia e preciso exaltar minhas origens.

Quando eu morrer
não quero bandeira do Brasil nem do Rio de Janeiro...
Repousem sobre meu caixão apenas duas bandeiras:
a do Colégio Pedro II e uma outra com uma foice e um martelo.
- Detesto hipocrisia e preciso exaltar o que me tornou eu mesmo.

Quando eu morrer
quero choro e velas...
Às vezes o choro é também de alegria
e é necessário um bocado de luz.
- Detesto a frieza dos homens e preciso ajudá-los com isto.

Quando eu morrer
quero, depois do sepultamento, uma festa onde eu morava.
Toquem Chico, Bethânia, Sosa, Buika, Nina e Raul.
Quanto aos sambas, toquem todos, mas só dos que prestam...
 - Detesto esse ruído do século 21 e preciso ouvir esses seres mais uma vez.

Quando eu morrer
estarei morto, certamente.
E muito me preocupa se morrerei Ser ou indigente...
Não fazer parte da História me é de muita precariedade.
- Detesto representações e preciso expor minha individualidade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Indefinido

É curioso como me encantas.
É curioso e também bonito.
É uma sensação indefinida,
que eu não meço e nem peço,
que eu só sinto.

Quanto te apresentas e me fazes
pensar nos ares do profano,
lembro-me de tua branca pele,
desse açúcar que expeles
em nossos cantos.

Fomentas em meu corpo o desejo,
imensa luxúria que eu sei não ser permitida...
Ó branca, ó loura, ó minha loucura!
Que me escapes com toda a formosura,
que tu és impossível nesta nossa vida!

Estás com outro a amar, eu sei!
Mas quem sou eu a mandar em meu coração?!
Cativaste-me involuntariamente,
tomando-me pelo todo, atemporalmente,
mas deixando-me cá, na solidão...


Para Z.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

É, Morena...

É difícil não ceder às tentações que lhe aparecem, eu sei. Fica uma angústia pelo que poderia vir em consequência da aceitação... Mas eu também sei do quanto você é inconstante, meu camarada. E ninguém merece o sofrimento de ser feito objeto de prazer momentâneo para, em seguida, ser cuspido da mesma boca que o beijava.

De pouco em pouco a gente consegue ficar louco!

A sanidade do Homem moderno está em sua loucura. Não há poesia, não há música, não há escultura em gesso ou madeira sem a luz que oferece a saída à opacidade que se tornou a existência humana. O que há é um pseudo-caos construído à partir de uma invenção de alguém já inventado e construído. É um ciclo que finda num dos vazios que a inexistência pode oferecer. É o pseudo-caos das coisas frívolas. Porque o Caos geral, o primitivo e básico, consolidador, fundador e mantenedor de todas as coisas, é fundamental na experimentação da criação. O Caos pelo Caos é a base. O que não passa pela dita loucura é inexistente, não-é. E é só experimentando deste Caos que nós, que nada somos por sermos apenas representação e cópia daquilo que também é representação e cópia daquilo que é representação e cópia, passamos a ser algo, a instituir algo como existência propriamente dita. Daí resulta o Ser: da lambida no suor do caos, da cegueira provocado pela luz do Caos.
O Homem comum não-é, uma vez que (como já dito) é apenas imitação daquilo que é imitação.
E por todas estas coisas e também por outras que ainda hão de me vir, torço, fervorosamente, para o desabrochar de minha Razão neste mundo de sombras de sombras. Porque enquanto faço parte deste terreno somente de opiniões, vou ficando tão fedorento quando a bosta inventada por esses pseudo-seres!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Horas sem luz

‎Que a felicidade não é deste mundo bem o sei.
Mas de que me vale o sofrimento hodierno,
se a gradação me dita a ida ao tal Rei
ou o declínio absoluto ao Inferno?

A garantia da felicidade futura
não me é dada por nenhum argumento.
Por isso tanto me faz um dia de candura
quanto um dia cavernoso e sangrento.

E haja esta ou outras mil teorias,
que me tirem o Inferno e me ponham o Astral.
Essa crença vã nas alegrias
ainda me será só prova de uma loucura geral.

domingo, 26 de agosto de 2012

Aos descrentes

Entre, descrença profana,
e faça tua cama bem aqui,
no peito meu.

À partir de hoje sou ateu,
sou um crente na descrença,
exaltador de desavenças
no marasmo e com os asnos desta vida.

O meu ideal me traiu,
afogou-me de sua ausência,
expurgou-me de toda a essência,
daquilo a que eu tanto era leal.

E não sabe do mal
que todo este abandono me implantou.

Hoje, se o inimigo me oferece
apenas um sorriso de sarcasmo,
eu largo todo o meu nada, jogo meus valores na privada,
e vou.

EU VENDI MINHA ALMA

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Caneta sem tinta

Não há imagem, não há ruído, não há poema
que nos transcreva o pesar de um grande homem!
A sua dor é bem maior, e o consome
pelas beiradas do corpo físico e também mental!

Abaixo fotógrafos, músicos e poetas,
seres de muita luz e pouco Ser!
Abaixo pela verdade,
pela ousadia que julgam em si reter!

Não há um nada, um "Quê" sequer,
que nos diga da aflição humana!
O conhecimento de nada nos vale,
embora nos resvale à sua vil choupana!

E este pesar infinito, dor bonita da Poesia,
decerto nunca terá fim!
E seja no rabisco de um livro, ou em bela fotografia,
a dor ou a alegria pinta-nos todos de seu carmesim!

E aqui está a prova, insossa e também concreta,
de que a vida do poeta é escrita em linhas tortas...
Se a parede é a Poesia flutuante,
a maçaneta é a chave delirante
para que se abra a porta!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Primavera Carioca




Vos anuncio a Primavera Carioca!
A eterna noite escura e espessa
enfim chegou ao fim...

Não mais a bruma intoxicante das licitações obscuras!
Não mais o balcão de negócios com aquilo que é do povo!
Não mais viagens com o dinheiro (nosso) da prefeitura!
A Primavera anuncia com alegria o ardor do novo!

Sejamos, pois, agora, abdicados jardineiros!
Tenhamos mais amor e mais determinação.
Lembremo-nos que o que nos move não é o dinheiro:
o que nos move é o pulsar de nosso coração!

As flores que chegam correndo pelo céu
necessitam, e muito, de nossa ousadia!
Retiremos de nossas vistas o véu,
e plantemos, felizes, dia a dia!

Saiamos de nossas casas, saiamos do papel,
e deixemos esse legado para toda geração!
A Primavera anunciada já aponta triunfante,
lançando amarelas labaredas de emoção!


Dedicado aos camaradas crentes na mudança!
E a Marcelo Freixo, futuro prefeito do Rio de Janeiro! 50!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Testamento




Deixo todas as minhas teses até aqui estabelecidas.
Deixo todas as concepções de mundo que já me ofereceram.
Deixo todo e qualquer tipo de construção.

Deixo tudo pro mundo.

Agarro-me à Filosofia.
Ao estrago que ela proporciona, e à felicidade consequente.

Cansei de sorrisos vazios.
Interessa-me preencher o meu.
E é na desconstrução total de mim mesmo
que a caminhada -se é que agora posso denominar caminhada! - se inicia.

Adeus, eu vou morar em outro mundo!

domingo, 12 de agosto de 2012

Cataclismo



Jogo fora meu vinho
só pra te ter mais consciente de meu pecado.
Apago meu cigarro
só pra te ver acordar em mim por mais 30 anos.

Há um Sol que teima em nascer na minha escuridão.
Não gosto disto e gosto.
É uma profusão...
Pareço um exército que canta antes da batalha.

Vontade de matar - Vontade de morrer
Uma confusão infinda.

Só me resta o poema barato,
sem custo, a servir pra porra alguma.
Nem aliviar a tensão.

Talvez a vida deva ser assim, por si só.
Talvez a felicidade não exista.
Talvez o Amor não exista,
seja apenas um nó que atrapalha o caminho da perversão.

Talvez eu esteja muito louco,
muito bêbado, lúcido demais.
Talvez o Belo seja a guerra interna, não a Paz...

Quem vai impedir de ser
aquilo que já é? Deixa fenecer!
Afinal nada fenece.
O salário da Existência é a morte que adormece.
O salário da Morte é a existência que perece.

No mais, só mais um adendo:
eu gosto do fundo, do sórdido, imundo.
Da paixão que me leva ao inferno, do submundo - Detesto o raso.

Como o poeta já disse, confirmo: eu gosto é do estrago.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Esperança



Espero pelo dia em que as ondas não mais serão
produto dos ventos contrários.
Espero pelo dia em que os velhos serão
mais vivos e menos reacionários.

Espero pelo dia em que os músicos voltarão
a falar do amor.

Espero pelo dia em que as pessoas serão
menos rasas.
E também pelo dia em que nossas almas serão
casas,
ninhos fecundos da Prosa e da Poesia.

Mas também espero pela noite, que me traz
a Arte.
E pelo Todo,
e todas as suas Partes.

Espero pela dor boa,
que traz Alegria.
E pela realidade impressa
no meu livro de fantasia.


Solidão vespertina,
tão cheia de pássaros audazes,
eu gosto tanto dessa tua rima,
desse encanto todo que tu mesma fazes!

És o rebuliço, ouriço louco de minh'alma,
o psicotrópico mais forte,
a agitação de morte que mais me acalma!

E como eu gosto desta turbulência,
desta torpe essência, minha grande amiga!

Pois é em ti que minha dor se guarda,
que ela espera, que ela se lava.
Pois é em ti que minha dor se abriga!


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Cristaliza e volta (Samba pra Morena)



Nos tempos em que eu era casado,
tu me eras só uma quimera.
Transpassava-me e eu, adoidado,
pensava "quem dera, meu Deus, ai quem dera"!

Não te importavas os laços que eu
junto à minha esposa tinha.
Quando ela ia à feira ou à rua,
tu não hesitavas - e vinhas!

E hoje só porque estou só,
tu não me queres nem mais por perto.
Mas eu dou um jeito, te laço e dou nó.
Você esqueceu que eu sou malandro esperto.

Eu aproveito é da tua desdita,
e te pego quando mais precisares.
Aí, meu compadre, te enrolo na fita,
pra nunca na vida mais tu me soltares...

És tentação, eu sei!
Mas considero muito mais pecado
tu zombares do meu coração,
trocando meu samba por fado.


Para a Morena do Jongo

sábado, 4 de agosto de 2012

Ao diabo



Ao diabo as alegrias,
as fantasias do coração.
Ao diabo as surpresas desejáveis,
as homilias, o pão...

Ao diabo toda festa,
toda forma de sorriso.
Ao diabo a libido
da pobreza e ostentação....

Ao diabo a menininha
que não quer tornar mulher.
Ao diabo o dia "belo",
recheado desse Sol.

Ao diabo o céu claro,
todo limpo, sem o cinza..
Ao diabo as flores todas,
as cores todas do arrebol...

Ao diabo o meu sorriso,
empecilho da Poesia...
Ao diabo o diabo,
e as luzes claras do dia.

Porque eu sou filho das Trevas.
Das negras e sórdidas Trevas.
E assim nasce meu poema,
e assim brota o Algo do Nada.

Que eu sou o traço do raio que cai,
a água que do chão se alevanta,
a Bela Tristeza que canta,
a fome que não é saciada...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A.migos P.ara S.empre


Irmã, sou um mau poeta.
Mas mesmo assim teimo em arriscar-me na escrita!
E hoje estou aqui, extasiado,
falando de nossa amizade tão bonita!

São tantos os anos
e os fatos concretizados,
que nossa amizade é prova concreta,
é Amor materializado!

Obrigado por tudo,
por estarmos perto um do outro mesmo longe,
por estarmos aonde o amor finda (no infinito)!

Obrigado por tudo de tão bonito
que tu representas na minha vida.
Não há poema, poesia,
que descreva essa alegria que sinto no peito.

E agradeço aos céus por sermos eleitos
à comunhão desta bela irmandade!
Que sejamos eternamente unidos,
como amigos, cúmplices dessa louca vida, como irmãos!

Pois que somos o canto da sereia,
a claridade da lua cheia,
o pulsar bravo do coração!

Te amo!


Para Rebecca Bicego (A.P.S.)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Epifania do monitor

Olha só esta maravilha!
Uma tela brilhante na minha frente!
Eu clico aqui, aparece ali! Na minha frente!
Curioso! Curioso! que objeto danado!

Isto não é da minha época, certamente!
No meu tempo as letras eram mais palpáveis,
eu podia borrá-las com a minha saliva logo após elas terem sido escritas!
Curioso, repito! Que maravilha!

E é colorido até.
Não sei se todas as telas são assim,
mas esta tela aqui na minha frente é colorida!
Ha! que estranho, tenho até vontade de dançar!

Mas também não importa...
Tudo sempre tanto faz!
Mas que é curioso isso tudo, é!
Que tela interessante!

Que Coisa interessante!
Sei que estou ficando enfadonho,
mas não importa!

Esta tela é muito interessante!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Revele

Vocês estão aí. Os Normais.
A tudo assistem.
A tudo aceitam.
A tudo creem conhecer.
Hum, pseudo-esmiuçadores.

E aqui estou eu, louco.
Aqui, tentando escrever um poema. Eu-louco.
Só um homem-louco tenta escrever poemas hoje em dia.

Quando o nascer do Sol
é apenas o nascer do Sol
não há razão para se escrever um poema.

Quando o rebuliço da paixão
é apenas um aperto no peito
não há justificativa para se escrever um poema.

Quando o amor não é Amor
não há motivos para se escrever um poema...

Os poetas deveriam ser cultuados.
Cânticos de adoração lhes deveriam ser entoados.

Mas não! Não me cantem louvores.
Pelo menos não agora.

Por vezes eu ainda acordo
vendo o nascer do Sol
apenas como o nascer do Sol.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

À morena do Jongo



O girado de tua saia
Arrepia-me a pele.

O bailado de tuas pernas
Arrepia-me a pele.

O gingado de seus quadris
Arrepia-me a pele.

O teu cabelo negro
Arrepia-me a pele.

O teu suor quente
Arrepia-me a pele.

Tua gíria malandra
Arrepia-me a pele.

Tua onda de erva
Arrepia-me a pele.

Teu olho mareado
Arrepia-me a pele.

Tua ressaca de palavrões e ternuras
Arrepia-me a pele.

Tudo teu
Arrepia-me a pele.

Tudo. Absolutamente.



Para a Morena do Jongo

domingo, 29 de julho de 2012

Também posso dizer das flores

Querem me dizer das flores
como se borboletas não houvesse em meu quintal.
Querem me falar das chuvas e trovões
como se filho de Yansã eu não fosse.

Querem me dizer quem trouxe
o cheiro de alecrim da mata
como se eu não fosse o próprio deus,
o próprio Homem-Oxóssi...

Mas que insanos são os seres
que querem sempre algo me dizer,
que querem tapar o Sol co'a peneira,
que querem me calar com suas verdades...

São ratos mal pagos,
porcos felizes da lama,
traidores da mesma cama,
impostores do mal-comum...

Ahhhhhhhh, eu devo ser poeta!
ou um filósofo qualquer!
- Os homens de hoje em dia não rabiscam mais em cores.

Sim! devo ser poeta, filósofo errante.
Pois falo dos grandes pensantes
às miudezas das flores!

Oito versos

Flores, chuvas e trovões
fazem lindo alvoroço,
enfeitam o amor nos campos,
odorizam o suor do esforço;

Alcançam a métrica dos deuses,
fazem no poeta a mais bela poesia.
Confeitam de cores e sons
as nuvens cinzas de todo dia.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Revolta

Há em minh'alma algo que não sou eu.
Um oco, um vazio, um não-ser nem não-ser...
Eu não sei como lidar com isso. Nem sei se quero.
O que importa é que é exatamente este indizível que me faz dizer.
Que me faz buscar a dor como remédio para o banal.

Bom, mas talvez isso seja eu também. Eu também, não sei.
Há em minha alma algo que sou eu mas que eu não sei que sou eu.
É, está mais claro agora. Ou não.

E seja lá qual for sua opinião sobre isso.
Não me importa.
Nada me importa hoje.
Deveria importar? Por qual motivo?
Não me importo.


Estou decidido a dar um rumo à minha vida.
E talvez este rumo seja não dar um rumo à minha vida.

Não está entendendo, não é?
Suspeitei.
Medíocre. Superficial. Banal. Burro.

Mas relaxe.
Acho que nem eu me entendo às vezes.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mentiras

Pessoa de verdade,
de verdade,
verdade? Existe não.

Essa coisa de verdade, meu filho, é tudo invenção.

O Homem é fruto de algo inventado.
O indivíduo não passa de vil construção.

Essa coisa de ser enveredado
numa verdade, meu filho, não passa de conto!
Essa coisa de que toda linha é sequência de ponto também, tudo ilusão!

Essa coisa de verdade, meu filho, é tudo invenção.
Tudo invenção.
Tudo.
Invenção.

sábado, 21 de julho de 2012

Para os fazedores de estragos




É a Tristeza mãe da Poesia.
O poeta é somente barriga-de-aluguel;
parteiro, premiado co'a dor de parto;
puta, meretriz; gente da vida.

Não me diga que há aqueles que escrevem sem dor.
Não creio. Não creio. Não há motivo para crer.
O poeta come e bebe daquilo que mata;
daquilo que transgride, que liberta e o faz fenecer.

A Poesia é filha da Dor, filha da Tristeza.
É feto abortado sem o mínimo amor.
É criança que cresce sem nunca ver a Beleza.
É a hipocrisia revelada pela farsa do ator.

E por isso sou poeta,
e por isso canto alto as baixezas de minha vida:
ao contrário do raso lago que são as almas,
das alegrias vindas de palmas,
cavo profundo minha própria ferida.



Para meu grande amigo e mestre Helber Gonçalves.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aurora


Aurora,
vestígios de uma noite aleatória,
retrato-falado da degradação do homem,
parte mínima e a priori da escória...

Aurora,
gosto quente e cortante e ao mesmo tempo doce,
cor do sangue quando muito coagula,
embebedas o homem com líquida textura
e o faz pensar que não era o o homem que já quis que fosse.

Aurora,
misturei-te co'a cevada bem gelada
e espumaste em minha boca já tão fria
o gosto ocre da encorpada alegria
saltitante de minha língua estalada!

Aurora,
não pensei que fosse chegada a hora
de ver tua bela garrafa vazia...
Mas é tempo do insano ir embora,
levar suas malas tristes para fora,
e dar adeus aos encantos da boemia.

Para Vitor e Ana.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cheia de Graça


Bela flor da noite
és tu, Ana formosa,
que brilha qual negra rosa
a pulsar como estrela cintilante...

Tu és branca mulata
que alegra a vida do poeta.
Tu és a serenata que encanta a vida menos reta!

Quantos louvores canto a ti e não sabes!
Nem mesmo eu sei dos pesares
que tu me fomentas na alma!

Ana beata, santa, impura, funesta...
Me lembras a besta vestida por um corpo santo!
E aqui lhe visto o manto glorioso
do poema que lhe jurei.

E embora não seja teu rei,
bem o sei que lhe sou grande amigo;
que nas terras que tu andas
sou o conforto pelo qual caminhas sem ter Lei.

Estou contigo, Ana querida, e de ti eu não largo.
Pois embora comprido seja meu passo,
contigo tenho segurança,
contigo eu tenho fé.
E mesmo embora tu sejas bem menina,
inocente, pequena, luz santa vespertina,
és fogo pulsante,
bebida inebriante em tons de mulher...


Para Ana Carolina

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Café antes de dormir


Um gole.
Mais
um gole.
Mais
um gole.
Mais
um gole.

Um gole a mais...

Caneca vazia - eu bebo rápido demais.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cordel de amigo




Não sei se gosta de poemas,
nem se um dos meus você já leu...
Mas este eu fiz para você, loirinha.
Este poema aqui é seu.

De toda dor que há no mundo,
a do coração é a pior.
Mas ter firmeza é preciso
- As coisas assim se dão melhor...

Sei que teu peito agora chora
e lágrimas de medo caem sem parar.
Mas respira fundo, pára e olha,
teu amigo aqui vai te ajudar...

O coração do Homem muda,
como mudam as nuvens a todo o momento.
E como mudam as águas que correm nos rios,
também mudam os nossos sentimentos.

Aceitar as mudanças não é fácil,
até hoje as minhas me deixam perdido.
E quando se é com um amor querido,
a coisa fica muito menos táctil.

Relaxa, mantenha a fé, que, infeliz ou felizmente
tudo, tudo passa.
A vida é bonita, é eterna,
não é só feita de desgraças....

Tudo dará certo. Seja lá
o que o certo for.
Pra todo amor que cessa ou nasce,
brota ou morre uma flor.

São os disparates da vida,
é o embaraço por Eros pregado...
Anima, sê forte e gentil.
- O futuro é feito de passados.


Para Z.S.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nossas dores



Meu bem, não te aflijas,
que a dor indefinida de teu peito
incide sobre o meu qual tocha acesa...

Estou aqui contigo, meu bem.
e comigo aqui estás, disso eu bem sei...

Não há nada a temermos em pavor.
O nosso único mal é esta distância
virulenta e maldita.

Se de teus olhos brotam lágrimas negras
e se a carne vermelha de tua boca tremula,
mantém-te serene, amor meu.
Mantém-te calma ao passo meu,
que já lhe corro em apressados passos.

E na calada da noite surjo,
a tocar flautas e odes a ti.
Abraço-te e faço com que teu pranto cesse
- e toda dor que nós temos se esquece-
na opulência do nosso sorrir...

domingo, 24 de junho de 2012

Propriedade

Mulher, tu me possuis...
Não há céu azul, ou cinza nuvem,
que desperte no poeta
mais desejos que a tua posse...
Tens o dom intrigante
de beijar com o corpo.
Deixa-mes louco ao volver
os olhos para minha face...
E não há mais temor,
não há mais impasse
quando me possuis e me fazes
de brinquedo amoroso.
É o que mais quero, meu amor:
ser teu passatempo preferido!
Ser o homem da tua vida eternamente,
ser o doce de tua língua veemente.
Ser o amante, de tua cama o mais querido!


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ser, e só ser


E até mesmo quando em ti em não penso,
estás em minha cabeça a todo momento.

Pois quando julgo em ti não pensar,
não é porque tu não ocupas o meu pensamento.
É porque em minha loucura
e em meus devaneios,
a dor de não tê-la em meio
desfaz meu discernimento.

E viajo, então solitário,
para os confins onde não sou.
- Só sou quando comigo estás.
Só ajo pelo amor que traz.
Só piso na terra firme em que você pisou...

Infinitude


Tu não sais de minha cabeça
nem por um segundo.
E na minha boca ainda sinto a língua tua,
e no meu peito ainda sinto o seio teu...

Sinto-me tomado pelo teu espírito,
como se fôssemos somente
a boca e o dente,
a unha e a carne.
Como se fôssemos um em essência de você e eu.


sábado, 16 de junho de 2012

O homem-que-ama


Não há nada que cale o coração do homem-que-ama.
Quem se apaixona se perde no achar-se em outro...

Não é um órgão que pulsa no peito deste homem!
É o próprio Amor, a canção pura da Felicidade!
E que falem, reclamem, exalem seus venenos!
O homem-que-ama não é medíocre,
o homem-que-ama não é pequeno...

Seus pulmões? é de rubor que se preenchem!
e seus olhos lacrimejam a água límpida da Vida!
O Amor é entidade na alma presente,
e a Tristeza não passa de transponível guarida!

E em sua cabeça há mais que coroas:
ela é feita daquilo que constitui nossa Lei...
O homem-que-ama é qual relva boa,
é macio, sereno, mais que tronos e reis!

Por isto é que desta forma eu sou!
O vosso poeta ama qual Deus à sua criatura...
Vê no seu Bem o Grande Bem que chegou
e tem no sorriso a brisa de leve candura!


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Um chá de flores



Um chá de flores contra o cinza-prédio de nossos corações!
Um chá de flores contra o cárcere turbulento das mansões!
Um chá de flores para a dor da perda, ou pra ressaca...
Um chá de flores pra cuca vazia, pra fome tapada co'a faca!

Um chá de flores brancas, rosas, lilases e magentas..
Um chá de flores pr'essa tarde mal-acabada, turva, cinzenta.


sábado, 9 de junho de 2012

Gosto


Eu não sei que força é esta que nos arrasta,
que nos transforma em seres únicos,
que nos mantém firmes mesmo em meio a tempestades...

Eu não sei que laço é este, meu bem,
que nos une de modo recíproco,
que nos une sem a obrigatoriedade do mundo.

Nosso caso parece uma valsa,
uma chuva que cai no telhado. Eu gosto.

Nossa força parece uma ópera,
me lembra Caruso, Surriento.
Tem gosto de livro com café fresco
ou requentado. E eu gosto.

Nosso sorriso me é um cântico sagrado,
o final da reza, o amém.
Lembra-me os tambores dos africanos.
Parece-me o fogo infinito
dos infinitos segundos dos anos. E como eu gosto.

Nosso afeto tem gosto de pão quente com manteiga
ou sem nada.
Tem gosto de chocolate, de coalhada,
de pêra, de pipoca doce. Eu gosto.

As boas coisas do mundo têm
para mim, meu bem,
o seu gosto e o seu cheiro.
Gosto de terra molhada,
de pimenta vermelha, de batata assada.
Cheiro do que é sempre inteiro.

E como eu gosto! E como eu gosto!


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Que amar é o único caminho



Teu amor é grande, eu sei...
Mas eu vejo a toda hora
tanta mediocridade no mundo
que morro de medo de perdê-la
para um outro conforto qualquer...

Eu ainda guardo
em minhas entranhas
o amor grandioso, meu bem...
Tentaram apagá-lo, mas em vão.
Tu és o meu novo combustível,
e que alegria é poder dizer isto!

Obrigado, obrigado, obrigado!
Tu estás do meu lado mesmo longe, eu sei...
Sinto-me rei, meu bem.
E te quero como minha senhora,
minha deusa, meu oráculo.

Tu és o meu devenir,
a essência de todo o empírico existente na terra...
És minha filosofia aplicada, minha quimera,
o cosmo ilimitado que me faz sorrir.

E por isso, ao andar por este mundo
onde os peixes não falam nem as árvores cantam,
deixo-me assim ser levado,
levado para onde tu me queiras ir...


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Saudades à noite




Ainda espero uma solução para hoje à noite.
Tu não estás aqui, meu amor.
E qualquer passo dado
é um aviso de dor...

Volte, eu lhe peço.
Volte com a prontidão de quem ama.
Estou braseiro, amor,
estou qual chama que não apaga.

E o frio que em nós desagua,
estando tu aí e eu cá,
faz-me pior e triste
com a vontade de não estar.


terça-feira, 5 de junho de 2012

Achados e perdidos



É no teu riso que me perco,
e no emaranhado de teus cachos é que me banho.
Pois ao perder-me, acho-me.
E achando-me, vejo em ti o meu contentamento.

E o amor que sinto aqui dentro,
neste peito achado e perdido,
é o amor que lhe quer em casa, em paz,
na quentura de amor amigo...

Senhora, delícia de minhas risadas,
em ti está as horas achadas
e também as perdidas...
Por ti, e mais nada,
me distraio na estrada e me perco na vida...

Senhora, é isto o que sinto agora:
a leveza de ser o que antes não era!
A certeza de que o passado não fora luz,
fora enganação...

Tu foste quem realmente me salvaste,
tu que, com teu riso de lua me encantaste,
iluminou-me a escuridão.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lua de mim



Viu a lua, meu bem?
Branca como tu, bela como tu...

Senti-me tua noite, meu bem.
Senti-me a escuridão nos teus raios refletidos...
- A luz que refletes é tua própria, não minto.

Viu a lua, amor meu?
Tu me tiraste do breu do amor egoísta...
Tu me tiraste a tempo do andar vago e perdido.

E eu não minto quando digo
que és o motivo de minha alegria,
que és tu a delícia de meus passos degradantes.

Amor meu, meu bem,
minha lua no céu claro de tua própria emoção,
te louvo como louvo aos santos celestes...
te louvo e prostro-me nos altares do teu coração!


sábado, 2 de junho de 2012

Bom dia, meu bem




Bom dia, meu bem.
Espero que tenhas tido uma boa noite de sono.
Eu sonhei com você esta noite,
e já tenho saudades.
E já quero novamente teus beijos,
e já quero novamente teus laços.

Bom dia, meu bem.
Espero ansioso o dia
em que lhe acordarei com o café na cama...
Eu já sonhei com isso um dia,
e ainda hoje sonho também.

"Bom dia, meu bem!"
É o que quero dizer-te todos os dias,
é o que quero que seja corriqueiro
e essência de nós para sempre...

Bom dia, meu bem. Bom dia.
Agora tu és minha alegria.
Agora tu és o meu dia, meu bem.

Bom dia, meu bem. Bom dia.

domingo, 27 de maio de 2012

A Paz do Caos

Do amor nada se espera
Ele é uma flecha negra
a gravar nos corações sua tatuagem infernal...

O Amor é um dos demônios mais cruéis.
É a faca amolada, a fé cega.

Amor
é o veneno que não se bebe todo dia.
É o ópio degradante da alma do poeta.

Amar
é um caminho de curvas sinuosas.
É a negação de toda certeza reta.

(para Gradiva)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais um canto à Amizade



Pequena amiga,
hoje tive um surto psicótico.

Um surto poético,
destes de brotar poesia da pele....

Lembrei-me de ti,
e de tua risada cativa.
Lembrei-me da brisa colorida,
da alegria de tê-la em mim.

Pequena amiga,
hoje o céu se abrilhantou
num tom bem mais monocromático.
Hoje tudo está tão mais gélido e mais uno
que sinto falta das conversas
que expeliam o arco-íris da amizade.

Oh, pequena amiga,
cobrar-te-ei a cerveja doce sobre a mesa de um bar.
Ainda quero as dialéticas infundadas e descabidas,
as lembranças pitorescas e doloridas
dos corações nossos no vagabundear...



Para a pequena grande Isabel Barbosa.


Razão




Poesia-Filosofia
Filosofia-Poesia

Sair da Doxa - mais que estranha euforia!

O Suicídio do Filósofo




Vou-me embora deste mundo
que pra mim não vale nada.
O céu azul
não diz pra mim
onde os confins de minha morada...


Vou-me embora deste mundo
que pra mim não vale nada.
Nem amor,
nem amizade,
nem caminhos sem pegada...

Vou-me embora deste mundo
que pra mim não vale nada.
O que vejo é assassínio,
menino contra menino.
Aleivosia por nada...

Vou-me embora deste mundo
que pra mim não vale nada
Onde era amor hoje é ódio.
Hoje é rajada, lufada...

Vou-me embora deste mundo
que pra mim não vale nada.
Adeus à Doxa, ao ignorabimus.
Adeus à realidade forjada.




domingo, 20 de maio de 2012

Carmesim


Meu cabelo está vermelho,
cor de sangue quando brota
do dente que cai, da porta
aberta no coração apunhalado...
Meus olhos estão vermelhos
da cannabis que não fumo,
dos socos tomados em casa
por aqueles que não me amam..
Minha boca está vermelha
do batom que uso escondido,
dos cortes provocados pela tua mão
em delírio...
Minhas mãos estão vermelhas
e também os meus pés grandes...
Vermelhos pelo sangue e também pelo fogo
da frigideira em que estou depositado...
Meu corpo está vermelho por completo.
Só não sei se é vermelho-inferno,
vermelho-amor, vermelho-inferno-amor
ou outra merda que se enquadre...
Mas tudo está tão vermelho,
num vermelho tão confuso,
num vermelho tão uno,
que creio não ter no mundo mais cor nenhuma...

sábado, 12 de maio de 2012

Criatividade nem pro título

O que há com você, "poeta"?
Dor não lhe falta...

Veja agora: estás sozinho, como querias!
e cadê tuas palavras, moleque?

Que merda de poesia é esta que escreves por ora?
Fase ruim? que fase o quê!
Quem é poeta não tem disso!
Deixa de ser moleque, garoto...

Passe a escrever bem, e logo.
A Poesia aqui está de culhão cheio de esperar...

domingo, 29 de abril de 2012

Minha cabeça













Viu quanto vazio?
E ainda pedem uma resposta concreta,
e ainda esperam de mim a definição Sou mais idiota....
Risos, poupem-me.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Palidez sadia




Boa noite, moça.
É com muita vergonha que lhe venho...
E espero que não seja com desdenho
que recebas esta carta de saudades.

Hoje faz mais alguns dias
que não nos vemos, nem nos falamos...
Parece até que nunca nos amamos,
que nunca tivemos amizade.

Dizem que é teu direito sumir
e se livrar, mesmo que superficialmente, de mim...
Mas bem sei que não é assim,
sei que a vontade de rever é grande.

Espero que tenhas melhorado
e que minha carranca já lhe tenha sumido...
Sempre estive contigo, sempre lhe fui amigo
e de monstruoso só tenho a minha inconstância.

Hoje não sei ao que me dedico.
A liberdade é muita e extasiante.
E muito embora me cause o gosto rascante,
o vinho tinto sempre há de ser bom...

Que as águas corram,
e corram depressa para que nos vejamos.
Pois que a história e a filosofia são amigas de anos
e não somos nós quem isso determinamos.


Sim, é para você.

Desconstrução histórica


Meninos e meninas não dizem a mesma coisa.
Uns falam em azul, outros falam em rosa...

Mas quando a escravidão do gênero
não mais açoitar os seres e estragar as prosas,
meninos e meninos, ou meninas e meninas,
enfim dirão a mesma coisa
nos mesmos lares, nas mesmas esquinas.

A fala então será unívoca,
e as crianças se darão mais livres.
Louvarão a sophrosyne e a candura
e rejeitarão as mazelas da hybris.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fumaças


Vou me comprar um café
Acenderei meu charuto.

Mais vale o homem de fé
que o homem são, e bruto.

___________________________________
(ou não? meu Deus! que inconstância!)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Soneto de um coração perdido


Flor da noite ensimesmada,
de negritude e bela candura
Tua pele e teu pelo liso
são do homem desventura...

Olhos de mel doce, voluntários,
e costas de rolar pelo chão quente de amor.
Soltas tua voz de sabiá
a voar dentre as árvores de meu peito...

Quem sabe sou do teu canto o eleito,
a gaiola aberta onde repousarás
tua dor...

Quem sabe minhas grades lhe sejam afáveis,
lhe causem descanso, mesmo graves.
Quem sabe sejam tua cor...

Bebida alcoolica


Um caderninho à toa
confessa a grandeza de um homem
ou a sua torpeza
pelas palavras ali desenhadas...

Umas folhinhas bobas
com mil rabiscos acidentais
entregam o coração do homem
e suas fraquezas...

E a caneta, então, oh,
nem se fala!
É o instrumento, a arma, o arco
com que o poeta exprime sua dor...

Caderno, papel e caneta:
coquetel barato de amor...
Caderno, papel e caneta:
coquetel barato de amor...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quadras


Quando o homem anda na rua
é todo o mundo que ele empurra,
é todo um mundo que ele segura,
nas costas...

Quando a criança come o chocolate
não sabe do fato de aquilo ser doce,
não tem noção, mesmo qualquer que fosse
a guloseima...

Quando o feto é abortado
é todo um mundo que se joga fora,
é toda transformação do que seria agora
na morte...

Quando a humanidade diz o sim à guerra,
será o poeta quem falará da dor,
será o poeta quem nos dará a cor
da vida...

Mas que se danem os 'quandos' e os 'porquês'!
Se a vida é a morte do morto,
a morte é a vida do aborto,
Heráclito.