quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O amor só entra por orifícios

Não se ama uma só vez
porque nós não somos um.
Somos amálgama da tez
de todos os corpúsculos do mundo...

Não se pode amar só uma vez,
nem somente só a um ser predestinado.
Pois que tão pouco há na viuvez
da pureza do amor todo de uma vez
quanto da sanidade em se corroer enlutado.

Não há grande amor, ou amor pequeno.
O amor visto no mundo é fruto de nossa aparência.
Não se espera do são uma cólera,
nem do profanado cão a decência...

E quais perfurados cubos
são os homens desta terra.
O quanto de amor que vos é devotado
é medido pelo quanto o seu furo revelado reverbera.

É na grandiosidade ou pequenez do furo
a medida da grande ou pequena paixão.
Quanto mais puro e santo o beato,
menor se avista a sua profanação...

Não há pequeno furo na parede
que faça muita água em si passar.
Se há um rio de paixão que aqui se passa,
o amor é mais! - é turbilhão de ondas grandes feito o mar.

Se te insinuas mais a uns do que a outros,
é que para aqueles os teus furos mais se abriram...
Sentindo o cheiro do amor, que é doce e quente,
os furos-boca intransigentes ao desejo sucumbiram...

Todavia não te culpes, não te culpes,
pelo furo pequenino,
que o amor quando menino
é também um bravo amor.
Bastar-lhe-á o primeiro cheiro,
o primeiro gosto.
Bastar-lhe-á um belo rosto
para abrir-se-lhe em furor!

E muito invejosos são
os homens sem orifícios.
E neles não há paixão,
delírio, flerte, ilusão.
São escravos eternos do sacrifício!

E muito furados são
os homens-cubos-loucos da minha casa.
Mas amar o mundo, ser campo fecundo,
é a ternura certa que nos liberta e nos compraza!

Nenhum comentário:

Postar um comentário