sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como um rio que não desagua

Seriam necessárias muitas margens
para eu despejar todos os rios que se encerram em mim.
Tenho me sentido uma grande bacia,
que tem nos olhos o furo pequenino
por onde escorre o mínimo da água-lágrima possível...

Preciso me rebentar,
explodir, desaguar.
Preciso de rasgos, das desilusões dos encantamentos.
A água de minha alma está parada.
Lamacenta, nada produz.
E o meu corpo-limite desfila
na fila mortal dos homens comuns...

Que meu rio encontre novos rios,
é o que eu mais quero.
Agora eu tenho estado perdido.
Mas por algum motivo
creio que isto seja me achar...

Preciso ser qual cachoeira, qual catarata.
Porque quando não se desagua, seca-se.
Quando não se desmonta em correntezas maiores, esquece-se,
e é a estiagem da alma quem impera.

Eu preciso é da volúpia da saliva,
das águas quentes da carícia,
das turbulências dionisíacas,
da juba grande da Quimera.

Oh, deus das águas,
dá-me logo as tuas margens...
Dá-me as roupas que tu fazes,
que não me cabem mais as carnes da Terra.

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