São prantos os cantos do poeta.
E choro, e lástima.
E murmúrio solitário.
Decerto que trocaria o copo apoiado sobre a mesa.
Decerto, tenho certeza, que trocaria por um beijo o seu lamento.
Mas parece que a Musa,
já sabendo do poeta o seu ofício do sofrer,
lhe abastece, bem contente, desta lástima
infinita que o poeta finge ter.
Pois que os amores do poeta são inventados,
e o seu pranto é placebo à solidão.
Mas que ele vive dessa dor dissimulada
é verdade, embora não haja nisto razão.
Eu só escrevo porque eu sei não ser poeta.
Eu escrevo porque o poeta não escreve.
Não interrompe o seu sono, não se mede
por uma frase ou por uns versos corrompidos.
Escrevo porque quero ser poeta.
Porque eu quero, e desejo e necessito.
Ser o poeta que deserda de seu íntimo
em prol da Poesia que lhe dá maior perigo:
o Amor..
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