sábado, 12 de janeiro de 2013

A morna das horas



Manhã tão arredia,
teu espanto é bem mais meu.
Figuras, somente, ao mundo
o que de mim tanto tu fazes.

Quando chegas e te aprumas,
e clareias com belo Sol ou brumas
as noites em que flutuo perdido,
sinto minha alma elevar-se
procurando algum chamado
que não ouço.

És nebulosa e céu limpo,
azul e rosa quando derramas em teu leito
o sangue inocente que morreu na noite.
E coronária do coração que aperta,
manhã doce, tu libertas no homem
o desejo de ser livre.

Manhã tão arredia,
tu não és noite, nem dia.
És solidão e ventura,
és cinza e negra, e alvura.

Compasso desregular das horas,
eu te espero logo além da curva que não fazes.
Te espero e guardo com a vontade
de ser tão morno quanto tu: sem início e fim, só meio.


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