domingo, 6 de janeiro de 2013

Folha de Jurema




Meu pai, fui almoçar.
Fui-me embora pra fazenda,
fui pro mato pra caçar.
Caçar peixe no riacho, tatu na beira do rio.
Oh, meu pai, mato faz frio,
mas caçador tem que caçar.

Fui pro mato, meu paizinho,
fui pro mato pra caçar.
Saco vazio não para em pé,
meu terreiro está cheio,
e eu preciso curimbar.

Fui escravo de homem branco.
Meu pai, dá-me acalanto,
como eu sofri em pranto
por não saber me embrancar!

Hoje sou cavalo de terreiro,
e tenho o Caboclo Flecheiro,
caboclo de raça, guerreiro, na minha banda a resguardar!
Eu sou é filho de Angola, de Ketu, Jeje e Nagô,
sou filho de todo amor, sou filho de Oxalá!

Eu sou cria do ventre
de um navio negreiro!
Preto-velho do terreiro, cabeça baixa no gongá..
Sou benzido com as ervas da Jurema,
na mata verde e serena,
canto pro Juremá!

2 comentários:

  1. É necessário musicar. Por que me pareceu ser música e não poema só pra ler, mas poema pra cantar.

    Eu gostei muito. Essa sua raiz espiritualista (candomblé e umbanda) são esplêndidas, sabia?

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